Número de transplantes feitos pelo SUS em 2020 foi o menor em oito anos


Total de cirurgias também caiu no ano passado, chegando ao menor patamar em uma década; dados são do Ministério da Saúde

Após consecutivas altas, o número de transplante de órgãos, tecidos e células, feitos pela rede pública caiu em 2020 e foi o menor dos últimos oito anos no Brasil. Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), do Ministério da Saúde.

No ano passado, foram 62,9 mil transplantes realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), número 22% menor do que o volume realizado em 2019 (81,4 mil). Nos últimos anos, os transplantes vinham crescendo de maneira consecutiva na rede. Agora, o volume voltou ao patamar 2013, quando foram feitos 62,4 mil procedimentos desse tipo.

Com experiência em gestão na rede pública, o médico Danilo Stanzani, ex-secretário de Saúde de São José dos Campos (SP) e atual diretor da Santa Casa da cidade, avalia que, entre os fatores para a redução, está a queda nas mortes por traumas — observada, principalmente, em períodos com maiores restrições na circulação de pessoas.

“O Brasil vinha caminhando bem no transplante de órgãos e a pandemia atrapalhou essa evolução. Da pandemia, vai sair muito paciente necessitando de transplante de rim, por exemplo. Vamos ter que fortalecer as campanhas de conscientização e resgatar esse tempo perdido. O transplante é muito importante para ajudar a salvar vidas”, afirma.

Para o médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP,
as mortes por Covid-19 também podem ter prejudicado as doações de órgãos. “Tem toda uma dificuldade logística. Todo óbito que é suspeito de doença infecciosa não é doador. E muita gente acabou ficando como quadro suspeito de Covid-19. A priori, se você tem suspeita, não pode doar”.

Cirurgias despencam

Além dos transplantes, as cirurgias também despencaram no último ano. Ao todo, foram 4,09 milhões de procedimentos cirúrgicos feitos pelo SUS. O volume é o menor desde 2010, quando o SUS aprovou 4,05 milhões de procedimentos.

No início da pandemia, o Ministério da Saúde chegou a recomendar o adiamento de cirurgias eletivas, de maneira a estruturar os hospitais para o tratamento dos casos de Covid.19. Na avaliação de Bittencourt, esse recuo foi importante para preparar o sistema hospitalar a partir de março.

“Muitos hospitais cancelaram agendas de eletivas para estarem preparados em termos de leitos, espaços físicos e até mesmo medicação. Na primeira leva, os hospitais privados quase não tinham pacientes internados”, diz.

O médico Danilo Stanzani viu de perto esse cenário à frente da secretaria de Saúde de uma das maiores cidades do estado de São Paulo. “Além de leitos, também precisamos de profissionais e equipamentos para tratar os pacientes com Covid-19. Em muitas cidades, o centro cirúrgico virou UTI. E os pacientes tinham medo de estar no hospital, levando a desmarcação de cirurgias e exames”, observa.

CNN BRASIL

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