O esporte que ajuda a dormir melhor, segundo a ciência


Embora treine grandes grupos musculares, especialistas destacam a importância de combiná-lo com exercícios de musculação

Crawl, peito, borboleta ou costas. Independentemente do estilo preferido, a natação sempre foi considerada a atividade física mais completa, envolvendo grandes grupos musculares e colocando em ação diversas capacidades. Porém, com a multiplicação das propostas de movimento que existem atualmente, coloca-se em causa o seu reinado como um esporte que se basta sozinho.

À medida que chega o final do ano e, com ele, os dias longos e ensolarados, muitos começam a incluir a piscina como área de treinamento. Assim, a natação ganha o maior número de adeptos nos próximos meses.

— A natação é a capacidade que permite ao ser humano deslocar-se na água através da propulsão realizada por movimentos rítmicos, repetitivos e coordenados dos membros superiores e inferiores e do corpo. Permite ficar na superfície, vencendo a resistência que a água oferece para se movimentar sobre ela — descreve Elizabeth Vilamowski, médica especialista em medicina esportiva, membro da comissão da Associação Civil de Medicina Esportiva (ACMDBA).

A natação consiste em um exercício predominantemente aeróbico, de baixa intensidade e alta resistência. É anaeróbico quando você corre na piscina ou faz distâncias em alta velocidade em pouco tempo (segundos), de acordo com a médica de medicina esportiva. Vilamowski destaca que, ao cobrir quase todos os grupos musculares, melhora a força e a flexibilidade ao mesmo tempo.

Segundo publicação da revista especializada Healthline, a natação promove um bom sono. Aponta que idosos com insônia reconheceram ter melhorado sua qualidade de vida e, principalmente, de sono, após realizarem exercícios aeróbicos regulares, como natação. Embora não se discutam os grandes benefícios que proporciona ao organismo, a natação não é mais considerada o único esporte completo.

Além disso, com a natação são liberadas miocinas que melhoram o metabolismo das gorduras, e neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina, que são redutores do estresse, melhorando o bem-estar.

A médica acrescenta que também ajuda a prevenir doenças cardiovasculares porque melhora a pressão arterial e os batimentos cardíacos e previne doenças como excesso de peso, diabetes, dislipidemia e melhora a osteoartrite. Também pode prevenir doenças pulmonares e imunológicas porque melhora a resistência respiratória.

— A natação pode ser utilizada como complemento ao treino — destaca Vilamowski.

Hoje, o físico dos nadadores parece muito mais forte e tonificado do que há algum tempo. O preparador físico Pablo Benadiba ressalta que não é a mesma coisa gerar um impulso ou uma contração no chão duro, na barra ou por meio de aparelhos, que dão tensão diferente ao músculo.

— É por isso que existe o crossfit, onde estão envolvidos muitos grupos musculares, ou o treinamento funcional. Com o ashtanga yoga você trabalha os grandes grupos musculares, não apenas a respiração. O mesmo acontece com a calistenia — enumera o treinador.

Benadiba reconhece que a natação era a mais completa, mas admite que hoje há muitas atividades físicas que são completas.

Para Javier Furman, cinesiologista e fisioterapeuta, a natação é superestimada, pois é uma atividade física num ambiente que não é o nosso, que é a terra, numa posição que não é a nossa. Fisiologicamente estamos preparados para ficar em pé e não na horizontal e sem a força da gravidade.

De acordo com Furman, existem muitos movimentos realizados debaixo d’água que não são naturais e são biomecanicamente prejudiciais à saúde.

— É um esporte completo porque praticamente todos os músculos do corpo são utilizados e isso é, entre aspas, saudável. É um desporto muito bom, não quero ir contra, mas a realidade é que existem outras atividades desportivas que, na minha opinião, são mais úteis — afirma.

Neste ponto, o cinesiologista e fisioterapeuta se inclina para o HIITS ( High Intensity Interval Training ), exercícios intervalados curtos exigidos, ou HIRT ( High Intensity Resistance Training ), como a ginástica funcional, em que os exercícios resistidos são com um pouco mais de peso, com uma bola ou pesos.

— São melhores porque estão de acordo com a nossa biomecânica fisiológica e, ao mesmo tempo, todos os músculos estão envolvidos. Há muita contração muscular — propõe.

Contra-indicações

Embora a natação seja considerada uma das atividades físicas que causa menos lesões e é indicada para uma ampla gama de pessoas, ela tem suas contraindicações . Por exemplo, pessoas com infecções pulmonares, bronquites e crises de asma.

— Isso não significa que uma pessoa asmática não saiba nadar. Pelo contrário, beneficia porque melhora a mecânica respiratória, mas não pode ser feito no meio de uma crise — esclarece Vilamowski.

Também não é indicado em casos de infecções otorrinolaringológicas, como faringites agudas, sinusites, otites, anginas, surtos de eczema ou reações cutâneas. Na lombalgia, o crawl é contraindicado devido às exigências a que está submetida a região lombar, alerta a médic especialista em medicina esportiva. Nestes casos, recomenda-se optar por um estilo traseiro. É sempre necessário um check-up médico prévio.

Javier Furman alerta que em sua prática médica atendeu inúmeros pacientes com problemas de coluna que pioraram com a natação.

— A natação é um bom esporte, mas não a recomendaria a pessoas com patologia da coluna, a menos que haja uma boa técnica e um bom professor que garanta que a técnica está correta — destaca.

Furman não recomenda nadar quando há lesão na coluna, cervical ou lombar, lesão no joelho ou quadril.

— Nestes casos, existem alguns estilos de natação, principalmente nado peito, que podem causar desconforto. Por outro lado, quando há uma lesão medular e se busca retreinar a força, é bom porque a água gera resistência em todas as direções. Aí, não só são retreinadas as questões musculares e articulares, mas também a questão proprioceptiva, que tem a ver com os nervos. Também é eficaz para reabilitação e perda de peso — aponta.

O cinesiologista e fisioterapeuta descreve a natação como solitária, por isso a indica como complemento, não esporte único.

— O esporte surgiu de uma tentativa da sociedade moderna de emular o que fazíamos há milhares de anos, em uma tribo, como caça, coleta e outros rituais. Os esportes coletivos são os mais saudáveis, por causa do convívio durante a prática — reflete.

Uma rotina de natação geralmente dura 45 minutos para iniciantes, estendendo-se para uma hora ou uma hora e um quarto conforme o nível avança. Benadiba aconselha uma frequência semanal de duas a três vezes por semana, que pode ser complementada com outra atividade.

A eficácia e os benefícios da natação são indiscutíveis. O que se sabe hoje é que, como outras disciplinas, será potencializado se for associado a outro tipo de treinamento que complemente os diversos trabalhos que o corpo necessita. O tom final que adquire é, então, o resultado de uma rotina física que se enriquece se for abrangente.

JORNAL O GLOBO

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