O movimento é remédio: o poder do exercício físico no tratamento do câncer de mama


Da descoberta do tumor ao novo propósito de vida: como Aline Pena encontrou no exercício físico um aliado no tratamento e de que forma essa prática vem deixando de ser um tabu médico; Reflexão marca o Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama, celebrado em 19 de outubro

Aline Pena e Suana Ramalho, paciente e médica. foto: Celso de Menezes

Aos 35 anos, a empresária e mãe de duas crianças Aline Pena vivia uma rotina intensa quando percebeu um pequeno caroço na mama. “Achei que fosse algo passageiro, talvez do ciclo menstrual”, lembra. Após os exames, veio a confirmação: câncer de mama do tipo HER-2. “Foi como se o mundo desabasse sobre mim. Esperei passar o aniversário dos meus filhos para contar à família, porque queria que eles tivessem aquele momento feliz antes de enfrentar a tempestade.” O maior medo de Aline, além do diagnóstico, era precisar interromper o exercício físico, que sempre fez parte da sua vida. Mas ao chegar ao consultório da oncologista Susana Ramalho, teve uma surpresa: o plano de tratamento incluía atividade física sistemática. “Hoje, o exercício é considerado parte do tratamento oncológico”, explica Susana. “Ele ajuda a controlar efeitos colaterais, melhora a disposição, preserva a força e favorece a resposta do corpo à terapia”, reforça a oncologista clínica e líder do Departamento de Tumores Femininos do Grupo SOnHe.

Durante as sessões de quimioterapia, Aline manteve sua rotina de exercícios e descobriu no movimento um aliado emocional. “Nos dias mais difíceis, era o exercício que me fazia acreditar que eu ainda tinha força”, conta. Um ano após o diagnóstico, já sem quimioterapia, ela segue se cuidando com atividade física diária e foi nomeada Embaixadora do Exercício Físico pelo Grupo SOnHe, iniciativa criada para incentivar pacientes e a população a se moverem mais.

O pesquisador e profissional da educação física Guilherme Telles, especialista em exercício e oncologia, reforça que a prática regular tem papel comprovado na prevenção e no tratamento do câncer de mama. “Pessoas fisicamente ativas têm até 20% menos risco de desenvolver a doença. E, durante o tratamento, o exercício seguro e bem orientado ajuda a preservar massa muscular, reduzir fadiga e melhorar a resposta fisiológica ao tratamento”, afirma. Segundo Guilherme, o exercício atua em diferentes frentes, inclusive no ambiente tumoral. “O movimento provoca adaptações metabólicas que tornam o corpo menos favorável ao crescimento do tumor e reduzem o risco de recorrência”, explica.

Para a oncologista Susana Ramalho, a prática também devolve às pacientes algo que o câncer costuma roubar: autonomia e autoestima. “Ao se movimentar, a mulher volta a se reconhecer como forte e ativa. Isso tem impacto direto no emocional e na adesão ao tratamento”, afirma. O alerta ganha ainda mais força diante dos dados do IBGE, que apontam que 47% dos adultos brasileiros são sedentários. “Precisamos enxergar o exercício não como complemento, mas como parte da saúde pública”, reforça o pesquisador.

Hoje, Aline transforma sua história em inspiração. “Meu medo era perder o exercício. Descobri que ele é o que me mantém viva”, resume. Com o programa “Embaixadores do Exercício Físico”, lançado em 2025 como parte das ações de conscientização do Outubro Rosa, o Grupo SOnHe busca dar voz a histórias como a dela, mostrando que o movimento também é forma de tratamento e, muitas vezes, o primeiro passo para a cura.

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