Especialistas destacam o impacto socioeconômico nos cuidados com a saúde bucal
Por Danielle Sanches, da Agência Einstein
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2020, destacam que 34 milhões de brasileiros adultos (acima dos 18 anos) perderam 13 ou mais dentes. Outros 14 milhões vivem sem nenhum, após perdas ao longo da vida.
Esse é um dado que contrasta com o fato de o Brasil ser um dos países com o maior número de dentistas por habitantes no mundo.Em volume geral, o mercado nacional fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O que explica, então, esse cenário?
Para Debora Heller Douek, pesquisadora do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein (IIEP/HIAE), o contexto de desigualdade da sociedade brasileira explica, em parte, a prevalência de problemas odontológicos, como as cáries e outras doenças periodontais que, por consequência, podem levar à perda dos dentes.
“Em alguns países desenvolvidos, é possível observar uma tendência de declínio na perda dentária em adultos. No entanto, as desigualdades sociais em saúde bucal ainda persistem mesmo em países com programas avançados de saúde pública, como é o caso do Brasil”, explica a pesquisadora.
Douek lembra ainda que, além da influência dos níveis socioeconômicos, educacionais e de renda, as perdas dentárias também aumentam ao longo da vida pelos efeitos cumulativos de doenças bucais. “Portanto, o aumento da expectativa de vida também impacta nas taxas de edentulismo [perda total ou parcial dos dentes] e de necessidade de prótese na população brasileira”, diz.
Quadro também impacta a saúde global
Uma saúde bucal precária não tem impacto apenas nos dentes, mas também na saúde do corpo todo. De acordo com a especialista, estudos demonstram uma relação entre a doença periodontal e outras condições, como doenças renais, osteoarticulares e respiratórias, além de diabetes, câncer e a ocorrência de desfechos adversos durante a gravidez.
Dados do Instituto do Coração (Incor) mostram que cerca de 45% das doenças cardíacas e 36% das mortes por problemas cardíacos podem ter origem nos dentes. Segundo Danielle Viana Ribeiro, gerente do Instituto Israelita de Responsabilidade Social (IIRS) e coordenadora de UBS no Jardim Helga, em São Paulo, embora não exista uma relação direta entre saúde bucal e problemas cardiovasculares, a doença periodontal está associada à aterosclerose – condição que provoca um estreitamento das veias e artérias e pode levar a infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
“Uma possível explicação para isso é que a má higiene bucal pode levar ao contato de bactérias com o sangue e piorar uma já existente doença coronariana”, explica Ribeiro. Segundo a especialista, tratar a doença periodontal também reduz a inflamação geral do corpo, mas reforça que ainda são necessárias mais pesquisas para aprofundar os conhecimentos nesse tema.