Obesidade na infância e adolescência eleva o risco de anemia, indica estudo


Pesquisa aponta relação entre o excesso de peso e a deficiência de ferro, micronutriente essencial para a disposição, imunidade e cognição,
entre tantos outros atributos

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Com uma prevalência crescente em todo o mundo, a obesidade é associada a uma extensa lista de prejuízos à saúde. Entre eles está anemia, segundo aponta um estudo publicado em junho no periódico científico BMJ Global Health.

Cientistas da Universidade de Leeds, no Reino Unido, esmiuçaram pesquisas médicas de 44 países, em uma meta-análise (método que analisa resultados de diversos trabalhos científicos).Dentre os achados, observaram o elo entre a deficiência de ferro e o excesso de peso em crianças e adolescentes.

“Embora o trabalho tenha alguns pontos críticos, porque reúne artigos muito heterogêneos, ele chega para reforçar que a chamada superalimentação, ou exagero na quantidade de comida, nem sempre fornece os nutrientes adequados”, comenta a pediatra e endocrinologista Lindiane Gomes Crisóstomo, do Hospital Israelita Albert Einstein. Esse tipo de carência de vitaminas e sais minerais, independentemente do peso, é o que especialistas definem como “fome oculta”.

Na falta de ferro, a anemia pode dar as caras e desencadear prejuízos. Fadiga, irritabilidade e dor de cabeça são alguns dos sinais de insuficiência do mineral, responsável pelo transporte de oxigênio para o organismo. “Ele é essencial para as funções cognitivas e a memória”, ressalta a médica, que completa: “Também tem papel crucial na imunidade e no desenvolvimento, entre outros.”

No trabalho britânico, uma das hipóteses levantadas para a deficiência associada à obesidade teria relação com menores níveis de absorção e aproveitamento do ferro, devido ao processo inflamatório decorrente do excesso de gordura corporal.  Mas não só: os cientistas enfatizam ainda os deslizes na dieta.

O risco dos ultraprocessados

Um cardápio recheado com ultraprocessados —produtos de alta densidade calórica, que concentram açúcares e gorduras, além de favorecerem o ganho de peso — tende a ser pobre em nutrientes e outras substâncias preciosas à saúde. Isso porque não apresenta boa oferta de hortaliças, frutas e grãos integrais. O ferro, por exemplo, aparece nas carnes, nos feijões e nas verduras verde-escuras.

Oferecer um prato equilibrado, com espaço para todos esses itens, desde a introdução alimentar – aos 6 meses de vida –, é uma das estratégias para reduzir o risco de obesidade.  “É necessário que toda a família esteja envolvida e os pais são o principal exemplo”, afirma a pediatra do Einstein. “Deve-se ensinar os pequenos a comer salada e jamais fazer as refeições em frente à TV.”

O estímulo à atividade física, segundo a especialista, precisa começar cedo também. “O ideal seria ter quadras disponíveis nas escolas, praças e parques seguros, mas tudo isso depende de políticas públicas”, pondera Lindiane Crisóstomo.

Outro ponto é demarcar o tempo de telas, seja o computador, seja o celular. Joguinhos e afins têm tudo a ver com sedentarismo.  As diretrizes médicas orientam que, entre 6 e 10 anos de idade, o limite seja de duas horas diárias; já os adolescentes não devem ultrapassar três horas por dia.

Combater a obesidade precocemente ajuda a afastar doenças associadas, caso do diabetes, das doenças cardiovasculares, de refluxo gastroesofágico, de problemas nos ossos, articulações e postura, da esteatose hepática (gordura no fígado), da apneia do sono, entre outras.

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