Medicamentos inovadores para perda de peso e tratamento da diabetes poderão ajudar a mudar a trajetória da epidemia global de obesidade, doença que afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo, como afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (2).
Uma nova geração de medicamentos supressores de apetite, chamados agonistas de GLP-1 — que inclui marcas de grande sucesso como Ozempic e Mounjaro —, se tornou extremamente popular nos últimos anos.
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Na segunda-feira, a agência de saúde das Nações Unidas divulgou suas primeiras diretrizes sobre como esses medicamentos poderiam ser usados como uma ferramenta fundamental no tratamento da obesidade em adultos, uma doença crônica.
Mais de 3,7 milhões de pessoas morreram em 2022 devido a doenças relacionadas ao excesso de peso ou à obesidade, de acordo com dados da OMS — um número superior à soma das principais causas de morte por doenças infecciosas, como malária, tuberculose e HIV.
A agência estima que o número de pessoas que vivem com obesidade dobrará até 2030, a menos que medidas decisivas sejam tomadas para conter esse aumento.
— A obesidade é um dos desafios de saúde pública mais sérios da nossa época. Esses novos medicamentos são uma ferramenta clínica poderosa, oferecendo esperança a milhões de pessoas — disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a jornalistas na sede da agência em Genebra.
Não é uma ‘solução mágica’
As novas diretrizes recomendam que as terapias com GLP-1 sejam utilizadas por adultos, com exceção de mulheres grávidas, “para o tratamento a longo prazo da obesidade”, definida como um Índice de Massa Corporal (IMC) de 30 ou superior.
A OMS enfatizou que, embora a eficácia das terapias no tratamento da obesidade seja “evidente”, está emitindo “recomendações condicionais” para seu uso, uma vez que são necessários mais dados sobre a eficácia e a segurança em períodos mais longos.
A agência também ressaltou que a medicação sozinha não reverteria a tendência da obesidade, que reconheceu como uma doença crônica complexa e um dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.
As novas diretrizes sugerem que as terapias podem ser combinadas com “intervenções comportamentais intensivas”, promovendo uma dieta saudável e atividade física, em meio a indícios de que tais mudanças podem melhorar os resultados do tratamento.
A OMS também apontou a importância de “criar ambientes mais saudáveis por meio de políticas robustas em nível populacional para promover a saúde e prevenir a obesidade”. O relatório recomendou a triagem direcionada de indivíduos de alto risco e a garantia de acesso a cuidados centrados na pessoa e ao longo da vida.
— Não se pode encarar esses medicamentos como uma solução mágica. Mas é evidente que elas se tornarão uma parte muito importante de uma abordagem integrada para a obesidade — disse Jeremy Farrar, diretor-geral adjunto da OMS responsável pela promoção da saúde, prevenção de doenças e cuidados.
No entanto, se os países acertarem na combinação, “o impacto na redução dos níveis de obesidade, e o impacto particularmente na diabetes… nas doenças cardiovasculares e outras, será profundo”.
Alterar a trajetória
Francesca Celletti, consultora sênior da OMS em obesidade, concordou.
— Existe a possibilidade de conseguirmos reverter essa trajetória epidemiológica da obesidade — afirmou.
Além dos impactos na saúde, o custo econômico global da obesidade deverá atingir US$ 3 trilhões anualmente até o final desta década, afirmou a OMS.
— Se não conseguirmos, de alguma forma, alterar a curva, a pressão sobre os sistemas de saúde se tornará insustentável — alertou Farrar.
Os preços exorbitantes dos medicamentos GLP-1 têm gerado preocupações de que eles não estarão disponíveis em países mais pobres, onde poderiam salvar mais vidas.
Pacientes com diabetes, para quem os medicamentos foram originalmente desenvolvidos, também sofreram com a escassez.
Em setembro, a OMS adicionou os GLP-1 à sua lista de medicamentos essenciais, numa tentativa de reforçar o acesso a eles, apelando para que versões genéricas mais baratas sejam disponibilizadas para pessoas em países em desenvolvimento.
— Nossa maior preocupação é o acesso equitativo. Sem uma ação planejada, esses medicamentos podem contribuir para ampliar a desigualdade entre ricos e pobres, tanto entre países quanto dentro deles — concluiu Tedros.


