Ozempic e Mounjaro manipulados: Sociedades médicas alertam para riscos à saúde desses medicamentos


Em nota, as entidades também expressam preocupação com versões alternativas que podem ser falsificadas

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) emitiram uma nota conjunta nesta terça-feira (4) que alerta para o uso de versões alternativas ou manipuladas das canetas injetáveis de medicamentos como Ozempic e Mounjaro.

Sociedades alertam sobre medicamentos manipulados e injetáveis de origem alternativa — Foto: Canva

As entidades destacam que as versões alternativas, que contém as substâncias ativas semaglutida (encontrada no Ozempic e Wegovy), e a tizerpartida (do Mounjauro e Zepbound), não passam pelos mesmos processos de fabricação, que precisam ser feitos de forma rigorosa.

Dentre esses padrões necessários, estão um alto nível de esterilidade, estabilidade térmica e garantia de eficácia, para manter a qualidade e a segurança dos remédios.

“O uso de versões alternativas ou manipuladas dessas moléculas tem se tornado uma prática crescente, preocupante e perigosa, carecendo de bases científicas e regulatórias que garantam a eficácia, segurança, pureza e estabilidade do produto, expondo os usuários a sérios riscos à saúde, pois não passam pelos testes de bioequivalência necessários, tornando impossível prever seus efeitos no corpo humano”, diz o documento.

A nota também aponta relatos documentados pela Food and Drug Administration (FDA), autarquia dos Estados Unidos que equivale à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que mostram que problemas como doses superiores ou inferiores às recomendadas, contaminações e substituição por outros compostos, foram encontrados em versões alternativas ou manipuladas vendidas nos EUA.

“Versões vendidas em sites, redes sociais ou por WhatsApp também aumentam o risco de adulteração, contaminação e ineficácia por desestabilização térmica”, alertam em nota.

Quais são os riscos das versões manipuladas e alternativas?

O diretor da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Clayton Macedo, explica que a dosagem irregular dos análogos do GLP-1 e GIP podem contribuir para efeitos colaterais gastrointestinais. Dentre eles, podem surgir sintomas como diarreia, constipação e refluxo.

— Além disso, a medicação injetável precisa ser estéril, sem nenhum tipo de contaminante. Nós não temos nenhuma garantia de que as versões manipuladas atendem a isso. Muitas vezes o produto não contém nem mesmo a substância com o nome pelo qual é vendido. Já vimos casos de canetas de semaglutida [princípio ativo do Ozempic] ilegais conterem insulina, o que pode causar um quadro grave de hipoglicemia — ressalta Macedo.

— Um bom exemplo de como a manipulação dos medicamentos não funciona para esses fármacos é que a semaglutida já tem sua versão oral, chamada Rybelsus. Contudo, a tecnologia para produzir um comprimido desses é muito complexa, até mais do que o da versão injetável, porque envolve uma molécula que permite a adesão da substância à parede do estômago e sua absorção. Não existe maneira de comprovar que um manipulado será feito com o nível de tecnologia necessário para o fármaco realmente funcionar — argumenta.

Em sites de vendas online, versões manipuladas que não seguem o protocolo da fórmula individual e customizada são comercializadas utilizando o nome do princípio ativo, o que descumpre a norma de propaganda de medicamentos no Brasil, regulada pela resolução RDC 96/2008 da Anvisa.

Dornelles salienta a preocupação das entidades em relação ao envolvimento de médicos brasileiros em um mercado ilegal de vendas de canetas injetáveis que não contém procedência regulamentada. Ele frisa que todo esse tipo de prática provém principalmente da busca das pessoas por uma “fórmula mágica” contra a obesidade.

— Alguns profissionais se aproveitam dessa alta procura por medicamentos que podem combater a obesidade. Mas a doença não é enxergada como algo crônico, que é a sua verdadeira face, e sim como uma condição que se resolve apenas utilizando a caneta injetável. Mas isso não é verdade — conclui Macedo.

JORNAL O GLOBO

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