Papa Francisco: entenda o que é a insuficiência renal e como ela agrava o quadro do Pontífice


Foto: Reprodução Instagram

Exames de sangue indicaram uma insuficiência leve dos rins que, segundo o Vaticano, está ‘sob controle’

Os últimos exames de sangue do Papa Francisco, que está internado há mais de uma semana tratando uma pneumonia grave, indicaram uma “insuficiência renal inicial leve, que está sob controle”, informou o Vaticano no último domingo. O Pontífice, de 88 anos, passou ainda por transfusões de sangue e terapias com oxigênio nos últimos dias.

Segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), a insuficiência renal aguda, como a de Francisco, é caracterizada pela perda súbita da capacidade dos rins de filtrarem resíduos, sais e líquidos do sangue. Como consequência, as substâncias podem se acumular na corrente sanguínea e chegar a níveis nocivos para o organismo.

A entidade médica explica que o quadro é mais comum em pacientes que já estão hospitalizados devido a outro problema de saúde, como é o caso do Papa. Diz ainda que a insuficiência pode se desenvolver rapidamente ao longo de horas ou mais lentamente, durante dias.

De acordo com informações da Rede D’Or, uma das causas que podem explicar o maior risco entre pessoas internadas é o uso de medicamentos fortes, que podem sobrecarregar os rins. Outra possibilidade é que a infecção tenha atingido o órgão.

Alguns sintomas são a diminuição da produção de urina; a retenção de líquidos, causando inchaço nas pernas, tornozelos ou pés; a sonolência e a perda de apetite. O diagnóstico é feito pela avaliação dos sintomas, o histórico médico e por exames, como os de sangue e de urina, que conseguem identificar a elevação das substâncias que deveriam estar sendo eliminadas pelos rins.

A condição é grave e pode até mesmo ser fatal, por isso a importância da rápida identificação do quadro e do início do tratamento. De acordo com o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, ele envolve o uso de medicamentos para os rins e controle da dieta, além da ação na causa do problema.

Pode ser considerada ainda a interrupção dos fármacos que estejam sobrecarregando os rins, por exemplo, e, em casos mais extremos, o quadro pode evoluir para a necessidade de diálise, quando o sangue é filtrado por uma máquina fora do corpo, ou, em último caso, de um transplante renal.

Entenda a evolução da internação do Papa

Os últimos problemas de saúde do Papa Francisco tiveram início ainda no começo do mês, quando a Santa Sé anunciou que o Papa realizaria suas audiências dos dias 6 e 7 de fevereiro em sua casa para se recuperar de uma bronquite. Na missa de domingo do dia 9, o sumo Pontífice pediu ajuda para terminar de ler sua homilia devido a dificuldades “para respirar”.

Na quarta-feira seguinte, dia 12, durante sua audiência semanal no Vaticano, pediu novamente ajuda, dizendo que ainda não conseguia ler o texto devido à bronquite. A doença é uma inflamação dos brônquios, os canais que transportam o ar aos pulmões. Ela pode ser crônica ou aguda e geralmente tem como causa uma infecção respiratória.

Devido à persistência do quadro, na sexta-feira, dia 14, o Pontífice foi internado no Hospital Gemelli de Roma, na Itália, para realização de exames e tratamento. Segundo boletim do Vaticano, Francisco estava levemente febril, mas continuava “sereno e de bom humor”. Na segunda-feira, dia 17, porém, novos exames indicaram uma infecção polimicrobiana, o que levou a uma alteração no tratamento.

Os quadros em idosos costumam começar com uma infecção viral, que compromete as defesas do organismo e abre caminho para uma infecção bacteriana secundária, explicou ao GLOBO Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

No dia seguinte, 18, o novo boletim da Santa Sé apontou que “os exames laboratoriais, a radiografia do tórax e a condição clínica do Santo Padre continuavam a apresentar um quadro complexo”. “A infecção polimicrobiana, que surgiu em um contexto de bronquiectasia e bronquite asmática, e que exigiu o uso de antibioticoterapia com cortisona, torna o tratamento terapêutico mais complexo”, continuou.

Um novo exame de tomografia computadorizada também mostrou que a pneumonia era bilateral, ou seja, estava afetando os dois pulmões do Papa. O quadro é agravado por Francisco já não ter parte do pulmão, que foi retirada aos 21 anos após um quadro de pleurisia, uma espécie de inflamação que ocorre na pleura, a membrana que envolve os pulmões e a caixa torácica.

Na quarta-feira, dia 19, novos exames de sangue mostraram uma leve melhora, especialmente nos índices inflamatórios, disse o Vaticano. Na quinta-feira, a Santa Sé disse que a melhora continuou, que Francisco estava sem febre e que “seus parâmetros hemodinâmicos continuam estáveis”. O Papa seguia com alguns focos de pneumonia, mas respirava sem ajuda de aparelhos.

Na sexta-feira, dia 21, porém, os médicos do Pontífice disseram que ele não está fora de perigo, e que a maior preocupação era um risco de sepse – resposta inflamatória por todo o corpo decorrente de uma infecção. No sábado pela manhã, dia 22, Francisco apresentou uma crise respiratória asmática de longa duração, que exigiu uma terapia de alto fluxo de oxigênio com protetores nasais, disse o Vaticano.

Os exames de sangue também mostraram uma plaquetopenia, associada a uma anemia, que exigiu transfusões sanguíneas. No domingo, dia 23, a Santa Sé disse que não houve mais crises respiratórias, mas que o estado de saúde do Papa segue “crítico”:

“Ele foi submetido a duas unidades de hematologia concentrada por transfusão, com benefícios e um retorno do valor da hemoglobina. Sua plaquetopenia permaneceu estável; no entanto, alguns exames de sangue mostram insuficiência renal inicial leve, que está sob controle. A terapia com oxigênio de alto fluxo por meio de cânulas nasais continua”, afirmou o Vaticano.

Relembre os outros problemas de saúde do Papa

Logo no início do pontificado, o Vaticano deixou claro que Francisco teve parte de um pulmão retirado na infância. O pedido de divulgação foi do próprio Papa. Ainda aos 21 anos, Francisco — até então conhecido pelo nome de batismo Jorge Mario Bergoglio — quase morreu depois de desenvolver pleurisia, uma espécie de inflamação que ocorre na pleura, a membrana que envolve os pulmões e a caixa torácica.

À agência de notícias francesa AFP, o biógrafo do chefe do Vaticano, Austen Ivereigh, contou que os médicos removeram três cistos pulmonares do Pontífice em 1957 e parte do pulmão.

Em 2015, veio a público os problemas no quadril e fortes dores nas costas, que passaram então a reduzir sua mobilidade. Tratava-se de uma estreiteza no espaço intervertebral entre a quarta e a quinta vértebras lombares.

Mas o que mais afeta a locomoção do Papa hoje é uma artrose nos joelhos, que o faz hoje usar cadeira de rodas na maior parte do tempo. Em 2020, inclusive, Francisco não celebrou a tradicional missa de Ano Novo por dores no nervo ciático.

Além disso, em julho de 2021, o Papa teve parte de seu cólon removido em uma operação destinada a tratar uma doença intestinal chamada diverticulite. Mais comum em idosos, a enfermidade no sistema digestivo é caracterizada por um estreitamento da parede do órgão. Isso se dá por conta de saliências que se formam na região com a idade.

Laparocele é um outro nome para hérnia incisional e acontece quando pacientes, após um procedimento cirúrgico abdominal, como o feito pelo Papa para diverticulite dois anos antes, desenvolvem uma hérnia no local da cicatriz.

Uma hérnia é uma protusão, como uma espécie de nódulo, formada pelo escape parcial ou total de um órgão ou um tecido por meio de uma abertura que foi aberta onde não deveria. Isso ocorre por má formação ou por enfraquecimento nas camadas que revestem o órgão, como do músculo abdominal.

Já no início deste ano, o Papa Francisco caiu e machucou o antebraço direito, apenas semanas após outra aparente queda ter resultado um hematoma grave no queixo do Pontífice. Em comunicado, o porta-voz do Vaticano anunciou que Francisco não chegou a quebrar o braço, mas precisou usar uma tipoia como precaução.

JORNAL O GLOBO

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