Coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) explica por que idosos são mais vulneráveis à invasão de microrganismos
O Papa Francisco, de 88 anos, foi diagnosticado com infecção polimicrobiana das vias respiratórias de acordo com um novo boletim médico divulgado pelo Vaticano nesta segunda-feira (17). O estado de saúde do Pontífice, que está internado desde a última sexta-feira, foi classificado como um “quadro clínico complexo”.
Qual é a doença do Papa Francisco?
“Os resultados dos exames realizados nos últimos dias e hoje mostram uma infecção polimicrobiana das vias respiratórias, o que determinou uma nova alteração no tratamento. Todos os exames realizados até o momento indicam um quadro clínico complexo, que exigirá uma internação hospitalar adequada”, afirma o boletim divulgado pela Vatican News.
O que é a infecção polimicrobiana?
A infecção polimicrobiana é uma ação simultânea de diversos microrganismos, como vírus, bactérias, fungos e/ou parasitas no organismo. Segundo um estudo publicado na revista The Lancet, a presença de um microrganismo gera uma abertura para outros microrganismos surgirem.
Os pesquisadores apontam que o vírus da gripe, vírus sincicial respiratório, adenovírus, vírus do sarampo são algumas das infecções que geram predisposição ao quadro de doença polimicrobiana.
Alexandre Naime Barbosa, chefe da Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que as infecções respiratórias polimicrobianas em idosos costumam começar com uma infecção viral, que compromete as defesas do organismo e abre caminho para uma infecção bacteriana secundária.
Esse grupo etário é mais vulnerável a infecções respiratórias porque, com o passar dos anos, o corpo passa por mudanças naturais que enfraquecem suas defesas. O sistema imunológico já não responde com a mesma eficiência, tornando mais difícil combater vírus e bactérias.
— Esse processo é especialmente preocupante em pessoas com comorbidades, como doenças pulmonares crônicas, insuficiência cardíaca e diabetes, pois o sistema imunológico já está mais vulnerável e a capacidade de recuperação é reduzida. O primeiro evento geralmente ocorre por meio de um vírus respiratório, como influenza, SARS-CoV-2 ou vírus sincicial respiratório. Esses agentes atacam as células do trato respiratório, inflamam as vias aéreas e prejudicam a barreira protetora dos pulmões — afirma.
Quais são os sintomas da infecção polimicrobiana?
A partir disso, como informa o especialista, surgem sintomas como febre, tosse seca, dor de garganta, congestão nasal, fadiga e falta de apetite. E quando a infecção evolui para uma superinfecção bacteriana, os sintomas podem se agravar.
— A febre pode se tornar mais alta e persistente, a tosse passa a produzir secreção amarelada ou esverdeada, há piora da falta de ar, dor no peito ao respirar e um estado geral de fraqueza e prostração. Em idosos, pode ocorrer também confusão mental, redução do nível de consciência e agravamento de doenças preexistentes — aponta.
Barbosa acrescenta que a progressão da infecção para um quadro mais sério pode levar à insuficiência respiratória, tornando necessária a administração de oxigênio ou até mesmo suporte ventilatório.
— Quando a infecção se espalha para o sangue, há risco de sepse, uma condição grave que pode comprometer o funcionamento de múltiplos órgãos. No caso do Papa, que já tem um histórico de doença pulmonar, a situação se torna ainda mais delicada. A presença de doenças crônicas pode dificultar a eliminação da infecção, aumentar a inflamação e tornar a recuperação mais lenta — pondera.
Dessa forma, o especialista salienta que o acompanhamento médico contínuo e a atenção aos primeiros sinais de piora são essenciais para garantir que a infecção seja controlada antes que evolua para um quadro mais grave.
JORNAL O GLOBO