Um estudo desenvolvido no Instituto Santos Dumont (ISD) foi um dos trabalhos apresentados no evento International Conference on Systems, Man, and Cybernetics, promovido pelo Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE). O congresso, realizado em Vienna, na Áustria, é uma das conferências mais relevantes na área de Interface Humano-Máquina.
A pesquisa apresentada tem como objetivo propor a utilização de uma interface cérebro-computador na reabilitação de pessoas com paraplegia provocada por lesão medular. A tecnologia, que permite a comunicação entre o cérebro e um dispositivo, é especificamente voltada para a atividade cortical que se relaciona ao movimento de membros inferiores.
Quem assina o estudo é a pesquisadora colombiana Ximena Gonzalez Cely, que durante um período de um ano desenvolveu parte de sua pesquisa no ISD, sob orientação do professor pesquisador Denis Delisle Rodriguez, titular da instituição. Segundo ela, o estudo fornece vias alternativas para que pessoas com danos neurológicos que perderam a capacidade de mover as pernas pratiquem o controle motor consciente de seus membros inferiores.
“É importante apresentar os resultados das nossas pesquisas em conferências internacionais, pois permite conhecermos outros grupos de pesquisa, fazer conexões, tirar dúvidas e criar novas perguntas de pesquisa. Por último, e não menos importante, possibilita conhecer outros lugares, escutar diferentes idiomas e fazer conexões com pessoas ao redor do mundo”, afirma a cientista.
Além de Ximena Cely e Denis Rodriguez, participam da pesquisa o orientador de Ximena e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Teodiano Bastos Filho; Lucivânio Varela e Lucas Costa, mestrando e egresso do mestrado em Neuroengenharia do ISD, respectivamente; e os professores pesquisadores do ISD, André Dantas e Caroline Cunha do Espírito Santo.
Tecnologia pode reduzir custos para os serviços de saúde
Segundo o professor Denis Rodriguez, a proposta de tecnologia se destaca por unir conhecimentos interdisciplinares na formulação de uma solução que seja de baixo custo, prática e integrada ao contexto da reabilitação em serviços de saúde.
“As interfaces cérebro-computador vêm demonstrando seu potencial para reparar danos neurológicos graves em indivíduos após uma lesão da médula espinal completa ou um acidente vascular encefálico. Ainda é preciso construir mais evidências científicas e baratear os custos destas soluções para que o sistema de saúde, principalmente público, adote a reabilitação com interface cérebro-computador”, explica o pesquisador.
Atualmente, o fisioterapeuta e estudante do Mestrado em Neuroengenharia do ISD, Lucivânio Varela, conduz uma nova etapa da pesquisa, que consiste na experimentação clínica da tecnologia desenvolvida. Ele destaca que, diferente de outras terapias, essa abordagem exige maior foco e concentração no processo de reabilitação, já que o progresso depende diretamente do esforço individual durante as sessões.
“Após a validação do sistema, iniciamos o recrutamento de indivíduos com lesão medular atendidos no Centro Especializado em Reabilitação do ISD, assim como de participantes externos que demonstraram interesse em colaborar com a pesquisa. Até o momento, os voluntários têm demonstrado grande engajamento e alguns já relataram melhora da sensibilidade em regiões onde antes não havia sensação”, afirma o mestrando.
Laboratórios abertos do ISD
Os laboratórios do ISD são abertos à comunidade científica nacional e internacional. Por meio de um edital contínuo, pesquisadores podem submeter projetos de pesquisa para uso das instalações.
As atividades são desenvolvidas no Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS), uma das duas unidades do ISD em Macaíba/RN. Com mais de 12 mil metros de área construída, o IIN-ELS conta com uma infraestrutura de laboratórios e equipamentos modernos, além de uma equipe de técnicos de apoio em pesquisa e desenvolvimento responsáveis pelas instalações laboratoriais.
O objetivo do projeto é possibilitar o compartilhamento interdisciplinar da infraestrutura de laboratórios abertos do ISD, contribuindo para o fortalecimento das pesquisas desenvolvidas no país. Os laboratórios possuem atuação especializada nas áreas de Neurociências, Neuroengenharia e Reabilitação.
