Estudo feito por cientistas do Canadá mostra que um fator de transcrição que regula a expressão de certos genes pode estar por trás da chamada fase de latência
Até o final de 2021, mais de 38 milhões de pessoas viviam com HIV, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana pode não ser percebida no início, por se esconder silenciosamente em reservatórios dentro dos linfócitos T, glóbulos brancos que atuam na ativação do sistema imunológico contra a infecção.
Um novo estudo feito por cientistas do Centro de Saúde da Universidade McGill, no Canadá, mostra que um fator de transcrição que regula a expressão de certos genes pode estar por trás da chamada fase de latência, em que o vírus permanece escondido.
Para provar isso, a equipe liderada pela professora de medicina Petronela Ancuta recorreu à técnica de edição genética CRISPR/Cas9 para eliminar a expressão de AhR e também de drogas que induzem ou bloqueiam a ativação da proteína AhR.
Publicado no periódico Cell Reports no último dia 12 de junho, o estudo descreve os resultados dessas duas abordagens neutralizadoras do AhR. A investigação permitiu que a equipe observasse que o crescimento viral ocorreu nos linfócitos T de pessoas vivendo com HIV e em terapia antirretroviral.
Os autores propõem o uso de drogas que inibem a atividade do AhR como uma estratégia de eliminação chamada “choque e mate”. Uma vez que o AhR é inibido (fase de choque), as células infectadas pelo HIV ficam visíveis para o sistema imunológico, podendo ser alvejadas e mortas.
E não é a primeira vez que a inibição de AhR é utilizada em problemas de saúde. “Em ensaios clínicos , as drogas que bloqueiam AhR já são usadas para combater o câncer“, conta Ancuta, em nota. Em alguns tipos de tumores cancerígenos, a via AhR é ativada por moléculas do ambiente externo, como fumaça de cigarro e poluentes, e a atividade anti-inflamatória resultante impede uma resposta imune antitumoral adequada.
“Hoje, conseguimos mostrar nas células dos pacientes como essa via AhR é ativada”, destaca Ancuta. “Com a ajuda de tecnologia de ponta, como a transcriptômica espacial, queremos ir além e caracterizá-la especificamente no tecido de pessoas vivendo com HIV. Isso nos permitiria validar esse alvo terapêutico em humanos no contexto de HIV.”