Poluição luminosa pode aumentar casos de partos prematuros


Cientistas associam períodos de menor visibilidade das estrelas com aumento de quase 13% nas chances de nascimentos precoces

Mariana Nakajuni, da Agência Einstein

Se antes a natureza tomava conta de iluminar a noite, hoje, quem desempenha esse papel são as luzes dos postes, dos anúncios e das fachadas de prédios, principalmente nos grandes centros urbanos. O excesso de iluminação artificial presente em nosso cotidiano gera aquilo que chamamos de poluição luminosa.

A comunidade científica já vem estudando os efeitos dessa poluição nos hábitos dos animais e dos seres humanos. Recentemente, um estudo conduzido por cientistas das Universidades de Lehigh, de Colorado e da Faculdade Lafayette, nos Estados Unidos, demonstrou seus impactos sobre a saúde de recém-nascidos. A pesquisa, publicada no periódico Southern Economic Journal, mostra que o aumento na iluminação noturna leva também ao aumento em casos de gestações mais curtas, partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer (inferior a 2500 gramas).

Para chegar a essas conclusões, os autores mediram diretamente o skyglow em oito cidades do estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Esse importante fator da poluição luminosa nada mais é do que o brilho no céu noturno das grandes cidades, formado por conta de luzes artificiais direcionadas para o alto.

 

O skyglow gera um efeito alaranjado e esbranquiçado no céu que nos impede de ver as estrelas. A pesquisa demonstrou que quando havia um aumento no brilho noturno, em que só era possível observar entre um terço e um quarto das estrelas visíveis a olho nu em condições ideais, a probabilidade do aumento de partos prematuros crescia em 12,9%.

 

Uma das razões apontadas pelo estudo é o desequilíbrio do ritmo circadiano, o nosso “relógio biológico”. O excesso de luzes artificiais durante a noite desestimula a produção de melatonina, o hormônio que regula o sono. “A gestação demanda que a mãe durma o suficiente para o desenvolvimento do feto e ter a energia exigida no trabalho de parto”, afirmam os cientistas em seu estudo. “Em particular, a privação de sono durante a gravidez já foi identificada como um fator de risco para nascimentos prematuros”.

 

Ainda que a pessoa controle sua exposição a luzes dentro de casa, como a redução no uso de televisão e dispositivos eletrônicos, a iluminação noturna vinda de fora, que gera o skyglow, também possui impactos sobre ritmo circadiano, resultando em noites de sono com menor duração e maior sonolência durante o dia.

 

Os pesquisadores reconhecem que o uso de luzes artificiais à noite são fundamentais no mundo moderno, já que elas melhoram a visibilidade, reduzem acidentes e ampliam a segurança nas ruas. No entanto, ponderam que a sua instalação não leva em consideração os efeitos nos nossos ciclos naturais. Muzhe Yang, professor de economia na Universidade Lehigh e um dos autores do estudo, afirma que “embora o aumento no uso de luzes artificiais à noite seja geralmente associado à prosperidade econômica, nossa pesquisa ressalta os efeitos positivos da escuridão em nossa saúde, e que são negligenciados”.

 

Este é o primeiro estudo que mede diretamente o skyglow para identificar a influência da poluição luminosa na saúde dos fetos. Para isso, foi utilizada a Lei de Walker, uma fórmula que estima o brilho noturno. Os autores também buscaram dados no Departamento de Saúde de Nova Jersey, no 500 Cities Projecte no aplicativo Loss of the Night.

 

As descobertas sugerem que sejam feitas discussões sobre as políticas relacionadas à iluminação pública e a necessidade de minimizar o skyglow, a fim de evitar consequências negativas ao sono e à saúde dos recém-nascidos. “Essa é uma importante consideração, principalmente com o aumento na popularidade de luzes de LED para iluminação pública, que, embora economizem mais energia e tenham custos operacionais mais baixos, podem agravar a poluição luminosa por conta da emissão de luz azul”, dizem os cientistas.

 

(Fonte: Agência Einstein)

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