Prejuízos da poluição sonora vão além da perda auditiva; entenda


Ruídos altos e repetitivos podem causar uma cascata de problemas no organismo saiba quais cuidados tomar e a importância de dar atenção à saúde auditiva

Por Thais Szegö, da Agência Einstein


Sons de motores, buzinas, obras, música alta…
É difícil encontrar alguém que não fique irritado ao passar muito tempo em um local barulhento. Além do incômodo, o excesso de ruídos pode causar danos à saúde para além da audição — que sofre com problemas como perda auditiva e zumbido.

“Quando essas ondas sonoras entram nos ouvidos, fazem vibrar o tímpano, além de ossos bem pequenos e as células do ouvido, o que desencadeia sinais elétricos que o cérebro interpreta como som”, explica a otorrinolaringologista Nathália Prudencio, mestre em otoneurologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especialista em tontura e zumbido. Mas, quando esse som é extremamente alto ou frequente, pode prejudicar o corpo humano.

Os efeitos fisiológicos do excesso de barulho são geralmente induzidos por dois sistemas diferentes: o da medula da glândula suprarrenal e do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal (HHA). O primeiro é ativado por uma reação em cadeia que leva à excreção de adrenalina e noradrenalina. Já a hiperatividade do eixo HHA está associada ao estresse crônico, quando o corpo secreta o hormônio cortisol.

Em curto prazo, muito barulho causa irritabilidade, dificuldades de concentração, fadiga, aumento do batimento cardíaco e dificuldades para dormir. “Já em longo prazo, há um risco aumentado de doenças cardiovasculares, como hipertensão, infarto e acidente vascular cerebral, transtornos psicológicos, ansiedade e depressão, problemas metabólicos e até comprometimento cognitivo devido ao estresse crônico”, afirma o otorrinolaringologista Augusto Riedel Abrahao, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Alguns estudos correlacionam a poluição sonora até mesmo a alterações gastrointestinais, como indigestão, úlcera gastroduodenal e constipação. O sono é outro aspecto prejudicado pela barulheira. “O ruído noturno pode fragmentar a estrutura do sono, induzindo despertares, criando dificuldades para adormecer e mudando para um sono mais leve e menos restaurador”, observa Prudencio.

A perturbação crônica do descanso pelos ruídos está associada a uma variedade de resultados negativos para a saúde, incluindo obesidade, diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e piora na função cognitiva.

Dia a dia barulhento

Todo esse incômodo provocado dia e noite tem prejudicado muita gente e chamado a atenção de especialistas e autoridades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 1 bilhão de jovens e adultos entre 12 e 35 anos de idade correm o risco de perda auditiva devido à exposição crônica a ruídos, incluindo aqueles provenientes do uso excessivo de fones de ouvido.

“Mas os sons urbanos também podem ser perigosos. O limite de exposição considerado seguro para sons de 85 decibéis é de oito horas diárias. Para sons de 110 decibéis, a orientação é não ultrapassar 30 minutos e, para sons de 120 decibéis, apenas 15 minutos”, explica a otoneurologista.

Para ter ideia, 85 decibéis é aproximadamente o mesmo nível de barulho de aspiradores de pó, ferramentas elétricas e liquidificadores. Como regra prática, se for preciso elevar a voz para conversar com outra pessoa a um metro de distância, o som está excessivo.

“O impacto do ruído na saúde ainda é subestimado, mas cada vez mais estudos mostram que a poluição sonora é um problema de saúde pública. Criar políticas de redução do barulho e conscientizar a população sobre seus riscos são passos essenciais para minimizar os danos causados pelo excesso de som”, afirma Abrahao.

Cuidados importantes

Os protetores de ouvido podem ajudar quem trabalha em serviços barulhentos, como em fábricas ou na construção civil. Eles ajudam a bloquear as ondas sonoras antes que elas penetrem no ouvido interno, reduzindo drasticamente o impacto de sons extremos. Evitar ouvir música ou vertelevisão com volume muito alto também são boas práticas.

Barreiras físicas, como isolamento acústico em ambientes fechados, e fazer pausas em ambientes barulhentos também ajudam. “Hoje, os relógios e celulares inteligentes aferem o nível de decibéis de exposição e mandam alertas aos seus usuários”, diz o médico do Einstein.

Investir em técnicas de relaxamento, como meditação e respiração profunda, e em atividade física regular, sono de qualidade e o contato com ambientes mais silenciosos e em meio à natureza pode reduzir os efeitos negativos da barulheira na saúde.

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