Progressão da miopia na infância pode causar doenças oculares graves na vida adulta


Quanto maior o grau da miopia, maior o risco de complicações na retina

A progressão da miopia na infância e na adolescência pode representar muito mais do que precisar trocar as lentes dos óculos para enxergar melhor. O aumento do grau, na verdade, eleva o risco de complicações oculares ao longo dos anos, principalmente na vida adulta. Dessa forma, o aumento exponencial do número de casos de miopia em todo o mundo é uma preocupação constante entre os oftalmologistas.

Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra, especialista em estrabismo e Chefe do Serviço de Neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS), a miopia é um erro refrativo que afeta a visão de longe. “O olho míope é essencialmente mais longo do que deveria ser. Como resultado, a luz que entra no olho é focada na frente da retina, em vez de diretamente nela, fazendo com que objetos e imagens distantes pareçam embaçados e sem nitidez”.

“Contudo, para além do alongamento do globo ocular, o olho míope é mais frágil do que um olho sem miopia. O alongamento pode levar ao afinamento da retina, que por sua vez aumenta o risco de complicações, como descolamento da retina, catarata prematura, glaucoma e doenças maculares. Quanto maior o grau da miopia, maiores são os riscos”, explica a médica.

A miopia em crianças e adolescentes, quando não corrigida, também pode causar cansaço visual, dores de cabeça e dificuldades escolares.

O que explica o aumento dos casos de miopia?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2050 metade da população mundial será míope, sendo que a prevalência será maior nas gerações mais jovens. Mas, o que está por trás desse fenômeno global?

O aumento drástico dos casos de miopia em todo o mundo tem alguns fatores que interagem e podem levar ao desenvolvimento desse erro refrativo. O primeiro é o genético, pois filhos de pais míopes têm risco maior de ter miopia. Para se ter uma ideia, quando ambos os pais são míopes, o risco é de 50%.

Para além da herança genética, as gerações mais novas passam mais tempo nas telas, bem como em atividades em distâncias menores, como estudar e realizar leituras. Com isso, há uma exigência maior da visão de perto, que pode desencadear o desenvolvimento da miopia.

“Outro aspecto importante é que crianças e adolescentes, especialmente aqueles que vivem em grandes centros urbanos, passam menos tempo ao ar livre. A luz natural e os ambientes abertos são fatores importantes para a visão. Isso porque exigem diferentes movimentos oculares, trabalhando o foco da visão de longe, entre outras habilidades visuais”, explica Dra. Marcela.

Como o sistema visual se desenvolve na infância, é importante garantir os estímulos corretos, tanto para a visão de longe, quanto para a de perto nessa fase da vida.

Como evitar a progressão da miopia na infância

Primeiramente, é crucial conscientizar os pais a respeito da importância de levar o bebê em seu primeiro ano de vida para uma consulta oftalmológica de rotina. “Sem dúvidas, esse é o primeiro passo para impedir a progressão da miopia, caso a criança tenha esse erro refrativo. A consulta também é importante para avaliar se há histórico familiar de miopia, o que contribui para um acompanhamento mais regular durante os primeiros anos de vida”, aponta Dra. Marcela.

O uso dos óculos é importante para assegurar o desenvolvimento da visão e pode ser indicado até mesmo para os bebês e crianças menores. Quando o grau é alto, a atenção precisa ser redobrada.

Mas, se mesmo com a correção do grau, a miopia progride, é possível iniciar tratamentos que já estão disponíveis no Brasil. “Temos no mercado algumas lentes especiais que, além de corrigirem o grau da miopia, também atuam desfocagem periférica. Trata-se de um mecanismo que desestimula o alongamento do globo ocular, principal fator de risco para a progressão da miopia”, conta Dra. Marcela.

Outra opção é o uso de lentes de contato rígidas durante a noite, para achatar a córnea. Isso permite uma melhora no foco durante o dia. Essas lentes também podem ajudar a retardar o crescimento do globo ocular.

“Por fim, temos o colírio de atropina, cujo mecanismo de ação leva à dilatação das pupilas e ao relaxamento do músculo responsável pelo foco. Isso contribui para reduzir a tensão no globo ocular, desacelerando seu alongamento”, complementa a especialista.

Gerenciar tempo de telas é crucial para impedir a progressão da miopia na infância

Adicionalmente aos recursos das lentes e do colírio de atropina, é crucial gerenciar o tempo gasto nas telas e nas demais atividades que demandam a visão de perto. Também é preciso incentivar as atividades ao ar livre.

Apesar dos malefícios das telas para a visão das crianças, pode parecer impossível abolir os eletrônicos em um mundo hiper conectado. Muitas crianças e adolescentes usam dispositivos eletrônicos para estudar e se comunicar. Portanto, nem sempre uma recomendação pode ser aplicada no dia a dia das famílias.

“Por outro lado, temos dados e evidências suficientes que mostram a relação das telas com a miopia e sua progressão. Dessa forma, podemos usar o bom senso e o equilíbrio, especialmente se a criança já tem o diagnóstico da miopia. Sempre que for possível, é importante que os pais sigam as diretrizes das sociedades médicas a respeito do tempo de uso das telas, de acordo com a idade da criança”, finaliza Dra. Marcela.

O que diz a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), trouxe algumas recomendações a respeito do uso de telas por crianças. O limite de tempo de uso dos dispositivos eletrônicos é determinado pela faixa etária, mas sempre deve ter supervisão de adulto. Confira abaixo.

  • Menores de 2 anos: nenhum contato com telas ou videogames;
  • Dos 2 aos 5 anos: até uma hora por dia;
  • Dos 6 aos 10 anos: entre uma e duas horas por dia;
  • Dos 11 aos 18 anos: entre duas e três horas por dia.

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