Assis explica que proteínas semelhantes, chamadas opsinas, também existem nos olhos, permitindo a visão. Na pele, essas estruturas atuam como sensores de radiação ultravioleta A e participam do processo de pigmentação. Mas, segundo o novo estudo, também podem atuar contra o melanoma, tipo mais grave de câncer de pele.
Para investigar as diversas funções cutâneas da OPN 4, a equipe usou a técnica de edição genética CRISPR. Com ela, geraram células de melanoma com uma versão não funcional da proteína e avaliaram os dois modelos: um com a proteína ativa e outro com ela “desativada”.
“Verificamos o crescimento tumoral dessas células e depois as injetamos em um camundongo”, relata o cientista a GALILEU. “Após três semanas, medimos o desenvolvimento do tumor e observamos que nas células que possuíam a versão mutada [inativada] dessa proteína o crescimento era muito menor.”
O estudo identificou que a proliferação de células de melanoma é mais lenta na ausência de Opn4. Isso é explicado por uma expressão reduzida do fator de transcrição indutor de melanócitos (MITF). “A remoção da melanopsina resultou numa redução do fator MITF, que é superimportante para o câncer, pois quanto mais MITF, mais agressivo o câncer de melanoma é”, explica Assis.
O grupo identificou ainda que tumores metastáticos, que apresentam menor expressāo do gene da melanopsina, também sāo menos agressivos. Como consequência, os pacientes sobrevivem por mais tempo.
Os especialistas compararam os achados com estudos feitos em humanos. “Os dados experimentais que obtivemos foram, em quase toda sua maioria, confirmados em dados de portadores de câncer de melanoma”, diz o pesquisador. Os dados em questão sāo públicos e fazem parte da iniciativa do Tumor Cancer Genome Atlas (TCGA).
Apesar de já existirem outros relatos de opsinas atuando como causadoras do câncer, Leonardo e sua equipe foram os primeiros a demonstrar o efeito dessas proteínas nos tumores de pele.
“O papel de outras opsinas em melanoma e de OPN 4 em outros cânceres ainda é desconhecido e, portanto, demonstra o importante impacto dessa descoberta, fruto dos esforços da ciência brasileira”, completa Thalles Lacerda, coautor do trabalho e pós-doutor pelo Instituto de Biociências da USP, em comunicado.
REVISTA GALILEU