Em contextos marcados por estímulos permanentes e pressões constantes, sintomas como palpitações, falta de ar, náuseas, tremores e dores no peito se tornaram comuns. Tais sinais, embora muitas vezes ignorados, podem indicar o início de um transtorno de ansiedade, condição que afeta o funcionamento emocional e interfere diretamente na vida cotidiana de milhões de pessoas.
Dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados em 2019, estimavam que aproximadamente 264 milhões de indivíduos viviam com transtornos de ansiedade em todo o mundo. No Brasil, o número alcançava cerca de 19,4 milhões, posicionando o país como líder global em casos diagnosticados.
Segundo a psicóloga Maria Klien, pós-graduada em Neuropsicologia, compreender o papel da ansiedade é o primeiro passo para lidar com seus efeitos. “Muitos desejam eliminar a ansiedade por completo, mas isso é incompatível com a existência humana. A ausência total desse estado emocional suprimiria tanto respostas de alerta quanto reações naturais diante de situações importantes”, explica.
Distinções entre ansiedade funcional e disfuncional
A especialista aponta a existência de dois tipos distintos de ansiedade: a funcional e a disfuncional. A primeira está relacionada à resposta do organismo diante de riscos reais e cumpre papel essencial para a sobrevivência. A segunda, por sua vez, se caracteriza pela ativação contínua de mecanismos de defesa em contextos onde não há ameaça concreta.
“Quando o corpo permanece em estado de alerta sem necessidade objetiva, se instala um desequilíbrio que prejudica a percepção e a capacidade de responder adequadamente aos acontecimentos”, afirma Klien. Essa sobrecarga compromete o julgamento, dificultando o enfrentamento racional das circunstâncias diárias.
Entre os fatores que contribuem para o agravamento do quadro, destaca-se a busca por controle sobre tudo que está fora do alcance imediato. “A ilusão de que podemos dominar completamente o que acontece ao nosso redor é fonte constante de frustração e sofrimento emocional. O que se pode aprender é a modular as próprias respostas”, observa a psicóloga.
Aprofundamento no assunto
O processo terapêutico, segundo Maria Klien, envolve o desenvolvimento da consciência emocional. A capacidade de nomear, acolher e observar os sentimentos com atenção contribui para que eles sigam seu fluxo sem se acumularem ou se manifestarem de forma exacerbada. “A repressão de emoções dificulta o processo natural de elaboração e pode resultar em sintomas físicos e psíquicos duradouros”, acrescenta.
A escuta interna, aliada a práticas de autoconhecimento, permite identificar os primeiros sinais de desequilíbrio. Para Klien, abrir espaço para esse diálogo interno é essencial. “As emoções precisam surgir, se manifestar e desaparecer. Quando impedimos esse ciclo, elas retornam de forma mais intensa e difícil de manejar”.