Pacientes internados ou que acabaram de ter alta hospitalar possuem maior pré-disposição para desenvolver tromboembolismo venoso (TEV); em entrevista, médico alerta que pacientes, parentes e profissionais de saúde devem prestar ainda mais atenção à doença durante o período de internação
Ficar internado no hospital devido a algum problema de saúde já implica uma série de dores de cabeça aos pacientes e pessoas próximas a eles. Mas as internações podem se desdobrar em problemas ainda mais sérios, como o desenvolvimento do tromboembolismo venoso (TEV). Dados da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia (ISTH) indicam que 60% dos casos de trombose ocorrem durante ou após o período de hospitalização. Além disso, determinados procedimentos médicos são considerados de maior risco para o desenvolvimento de trombose, como cirurgias ortopédicas, cirurgias plásticas, neurocirurgias, cirurgias urológicas e gineco-obstétricas, cardiotorácicas e quimioterapia em pacientes em tratamento oncológico.
O TEV é uma condição em que ocorre a formação de coágulos do sangue, denominados trombos, nas veias. Trata-se de uma doença responsável por pelo menos 43 mil internações na rede pública brasileira em 2021, de acordo com levantamento do Sistema Único de Saúde (SUS), porém perigosa e que deve ser tratada com atenção.
Por isso, no mês em que se lembra o Dia Mundial da Trombose para alertar, conscientizar e prevenir a doença, Marcelo Melzer Teruchkin, médico graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), cirurgião vascular formado no Hospital das Clínicas de Porto Alegre (HCPA), membro da Sociedade Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH) e de Cirurgia Vascular (SBACV) e coordenador do Grupo de Medicina Vascular do Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre, RS), responde perguntas importantes sobre a TEV e sua ocorrência em pacientes hospitalizados.
O que é trombose e quais os seus tipos?
A trombose é a obstrução (“entupimento”) de qualquer vaso sanguíneo do organismo humano. Ela pode ocorrer no sistema arterial, sendo causada, na maioria das vezes, por placas de colesterol (gordura) no sistema venoso, causada pela formação de um coágulo. A trombose arterial pode ocasionar eventos como o infarto agudo do miocárdio, a isquemia cerebral (bloqueio do fluxo sanguíneo no cérebro) ou a má oxigenação das artérias dos membros. Já a trombose venosa causa dificuldade de retorno do sangue das extremidades para a sua oxigenação nos pulmões. Nesse caso, falamos na trombose venosa profunda (TVP), que acomete uma veia profunda dos membros inferiores, e na embolia pulmonar (TEP), que ocorre quando o trombo se desloca pela corrente sanguínea e se aloja nas artérias do pulmão.
O que é tromboembolismo venoso e quando ele ocorre?
O tromboembolismo venoso (TEV) é a presença de trombose em alguma veia (as mais comuns ocorrem nas veias das pernas), sendo que os sintomas incluem dor, edema, enrijecimento e mudança da coloração. Em alguns casos, esse coágulo de sangue pode se desprender das veias das extremidades e se deslocar, causando uma obstrução da circulação pulmonar. Esse quadro pode acarretar casos menos graves, com dor torácica e certa falta de ar, até quadros críticos, levando à parada cardiorrespiratória e até a morte.
Quais os tipos mais frequentes de trombose em uma internação hospitalar?
O TEV é a principal causa de morte evitável em pacientes internados em hospitais gerais e clínicas geriátricas.
Quais são as condições que favorecem o tromboembolismo venoso em pacientes hospitalizados?
A trombose venosa, ao acometer pacientes internados, tem como principais causas a restrição ao leito, desidratação, paralisia de alguma parte do corpo, cirurgias, infecções, trauma, algumas medicações (como anticoncepcionais), reposição hormonal, tabagismo, alguns tipos de câncer, obesidade e gestação e puerpério.
Como evitar trombose no hospital?
Algumas recomendações para evitar a doença são manter-se bem hidratado, estimular a movimentação dos pacientes, controlar doenças associadas, usar dispositivos como meia de compressão, fase uso de compressão pneumática para pacientes cirúrgicos e de medicamentos anticoagulantes (em casos específicos). Além disso, também são recomendados a aplicação de protocolos institucionais para prevenção do TEV, com uma comissão de especialistas em cada hospital, e a discussão do tema entre o médico e o paciente.
Quem tem trombose venosa tem que ficar internado?
Cada caso deve ser analisado separadamente. De forma geral, dependendo da gravidade, um paciente pode iniciar seu tratamento no hospital e continuar em casa ou, quando a equipe médica julgar adequado, todo o tratamento pode ser feito em casa.
Como é o tratamento para pacientes com tromboembolismo venoso?
O tratamento é realizado mediante medicações anticoagulantes para impedir a progressão e migração do trombo. Em casos nos quais os anticoagulantes sejam contraindicados, por risco aumentado de sangramento, pode-se usar um dispositivo chamado filtro de veia cava que impede a migração do trombo para o pulmão ou outras regiões. Em casos graves, em que há risco de vida ou de perda do membro, podemos utilizar medicações que dissolvem o trombo, intervenção por meio de cateterismo (tratamento endovascular) ou até mesmo cirurgias.
Quanto tempo uma pessoa com trombose venosa permanece em tratamento no hospital?
O tratamento médio da trombose é de três a seis meses, sendo que a internação hospitalar pode ser curta ou evitada, conforme o caso de cada paciente. Alguns pacientes necessitam de um tempo maior de anticoagulação, como pacientes oncológicos e pacientes acamados. Em algumas situações específicas pode ser necessário o uso da medicação por toda a vida, como nos casos de tromboses de repetição.
Após a alta médica, quais são os cuidados a serem tomados pelo paciente que teve trombose hospitalar?
Usar corretamente medicações prescritas e meias de compressão em caso de trombose dos membros inferiores. Também deve haver o controle das doenças associadas, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Cuidados com sinais de sangramento (nasal, dentário, digestivo e urinário). Prevenção de acidentes com material cortante e traumas em geral. Por fim, estimular bons hábitos como hidratação, prática de atividade física e o acompanhamento médico sistemático.
Há alguma outra observação relevante sobre o tema que a doutora gostaria de acrescentar?
É muito importante salientar que a prevenção do TEV e seu diagnóstico e tratamento precoce minimizam a gravidade da doença e suas sequelas.