Em outubro, dois marcos chamam atenção para os desafios e transformações do mundo do trabalho: o Dia do Idoso (1º) e o Dia Mundial da Saúde Mental (10). Ambos se conectam a um fenômeno crescente: a busca por propósito e equilíbrio emocional em meio às transições de carreira.
O aumento da longevidade fez com que muitos profissionais passassem a repensar sua trajetória. Hoje, viver mais significa também trabalhar por mais tempo, reinventar-se e, muitas vezes, iniciar uma segunda ou terceira carreira. Para alguns, isso significa empreender. Para outros, migrar para áreas que tragam mais realização pessoal.
Esse movimento ganha ainda mais força em fases da vida em que os filhos já estão criados, a maturidade emocional se consolida e a bagagem de experiências permite enxergar a carreira sob uma nova perspectiva. Nesses momentos, surge o desejo de investir em caminhos que proporcionem autorrealização, bem-estar e felicidade, e não apenas estabilidade ou segurança financeira.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ansiedade e a depressão estão entre as principais causas de afastamento do trabalho em todo o mundo. E a transição de carreira, quando não conduzida com equilíbrio, pode intensificar medos e inseguranças.
Para Renata Freire, administradora, mestre em Desenvolvimento Local e mentora de carreira e negócios, a chave está em adotar o conceito de harmonização de carreira. “Mudar de direção não significa ruptura. É integrar as experiências já vividas ao novo caminho, reduzindo a carga emocional e fortalecendo a confiança”, afirma.
Carreira como jornada de propósito
Com mais anos de vida ativa, as pessoas deixam de encarar a carreira como uma linha reta que termina na aposentadoria. Ela passa a ser vista como uma jornada de evolução contínua, em que cada fase traz novas possibilidades de alinhamento entre trabalho e propósito.
“Cada vez mais profissionais maduros decidem empreender ou se reposicionar. Eles não querem apenas ocupar funções, mas sim construir algo que tenha sentido, que traga bem-estar e felicidade. E isso é possível sem descartar a história anterior. Harmonizar é reconhecer que toda experiência tem valor e pode ser ressignificada”, explica Renata.
Cinco passos para uma transição equilibrada
Para que a mudança ocorra de forma saudável, a especialista sugere cinco passos:
1. Autoconhecimento – Reflita sobre seus valores, talentos e propósito de vida.
2. Resgate da trajetória – Valorize experiências anteriores como base para o próximo ciclo.
3. Definição de objetivos – Estabeleça metas claras e compatíveis com o momento atual.
4. Aprendizado contínuo – Invista em capacitação e mantenha-se aberto ao novo.
5. Rede de apoio – Construa conexões com pessoas que já vivenciaram transições semelhantes.
Uma escolha que também cuida da mente
O empreendedorismo tem se tornado uma alternativa frequente para quem busca autonomia, flexibilidade ou simplesmente a oportunidade de criar algo com propósito. Mas a jornada, quando vivida sem preparação, pode ser fonte de ansiedade e estresse.
“Assumir-se protagonista da própria carreira e encarar o aprendizado como parte do cuidado consigo mesmo é uma forma de proteger a saúde mental e tornar a transição mais sustentável”, reforça Renata.
Assim, no mês em que se fala sobre saúde mental e longevidade, a harmonização de carreira surge como um caminho para alinhar propósito, bem-estar e resultados. Afinal, viver mais também significa ter mais tempo para recomeçar — e transformar a carreira em um espaço de realização contínua, sem abrir mão da felicidade.