Será que é saudável a tecnologia fazer a mediação da saúde?


Professor de filosofia alerta para os limites éticos que surgem com a expansão da inteligência artificial.

Nolen Gertz, professor assistente de filosofia aplicada na Universidade de Twente, na Holanda, dedica-se a um assunto que, diante da expansão da inteligência artificial, vem ganhando cada vez mais relevância: a ética na tecnologia. Autor de “Nihilism and technology” (“Niilismo e tecnologia”), ele revisita o trabalho do filósofo Friedrich Nietzsche, um dos expoentes dessa corrente e conhecido por uma frase tão polêmica quanto incompreendida: “Deus está morto”. E afirma que corremos o risco de entronizar a tecnologia no lugar da religião:

“Nenhuma tecnologia é neutra. Ela muda a forma como nos relacionamos com o mundo. Influencia nossa percepção, nossa experiência, e muda a ética”.

No século XIX, Nietzsche questionava a crença arraigada na religião. Caberia ao ser humano rejeitar os valores e princípios que funcionavam como amarras. Gertz faz um paralelo e afirma que a sociedade contemporânea está fazendo uma escolha arriscada:

“Nietzsche dizia que Deus está morto. Agora, a tecnologia é Deus. A ideia de que a inteligência artificial nos fará viver mais está atrelada a uma projeção de gastos, somente em 2023, de 20 bilhões de dólares em dispositivos como os wearables, que coletam informações sobre a saúde e atividades físicas da pessoa. É como se o corpo fosse uma máquina cujas peças pudessem ser trocadas, como se devesse ser curado tecnologicamente”.

 

Ele citou pesquisa da empresa de consultoria PwC na qual 70% dos entrevistados querem wearables que os ajudem a viver mais; 60% esperam que a tecnologia os auxilie a manter um peso saudável; e 60% gostam da ideia de headphones que monitorem o estado de espírito do usuário e escolham a música a partir dessa análise.

Gertz é especialmente crítico em relação ao movimento conhecido como transhumanismo, que propõe a utilização das tecnologias emergentes para atingir o máximo da potencialidade da evolução humana: medicamentos antienvelhecimento, implante de sensores, intervenções em nível celular, manipulação genética e por aí vai:

G1

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