Silencioso, mas não invisível: por que precisamos falar sobre o câncer de ovário


por Marcela Bonalumi

Marcela Bonalumi é oncologista da Oncoclínicas&Co (foto: divulgação)

O câncer de ovário é um dos tumores ginecológicos mais desafiadores que enfrentamos na prática oncológica. Com maior incidência a partir dos 50 anos, é uma doença silenciosa, que costuma evoluir rapidamente e apresenta sintomas discretos, muitas vezes confundidos com alterações gastrointestinais comuns.

Apesar de ser o oitavo tipo de câncer mais frequente entre as mulheres no mundo, e o segundo entre os ginecológicos, ainda temos limitações importantes quando falamos em prevenção e diagnóstico precoce. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima 7.310 novos casos por ano até 2025. Em 2020, foram mais de 3.900 mortes pela doença.

A maioria dos casos é do tipo epitelial, originado nas células que revestem o ovário. Os demais derivam das células germinativas, que formam os óvulos, e das células estromais, responsáveis pela produção hormonal. Existem ainda tipos mais raros, como o carcinoma de pequenas células hipercalcêmico, cuja origem celular ainda é desconhecida.

Infelizmente, ainda não contamos com um exame específico de rastreamento, como temos no câncer de colo do útero ou de mama. Quando há sinais, eles costumam surgir tardiamente: inchaço abdominal persistente, dor pélvica ou nas costas, alterações no hábito intestinal, náuseas, perda de apetite e emagrecimento sem causa aparente. Em mulheres após a menopausa, o sangramento vaginal anormal é um alerta importante.

Vários fatores de risco estão associados, como: idade acima dos 50 anos, obesidade, tabagismo, sedentarismo, endometriose, menarca precoce, menopausa tardia, histórico familiar da doença e mutações genéticas, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2. Também observamos maior risco em mulheres que nunca tiveram filhos. Por outro lado, estudos apontam que o uso prolongado de anticoncepcional oral pode reduzir o risco de desenvolvimento da doença, provavelmente por reduzir o número de ovulações ao longo da vida.

Diante de sintomas que insistem em aparecer — aquela dor que não passa, o inchaço que incomoda, a sensação de que algo não está bem — é essencial ouvir o próprio corpo e buscar ajuda médica. O caminho até o diagnóstico pode envolver diferentes exames, como análises de sangue, imagens do abdômen e, em alguns casos, uma cirurgia que ajuda a confirmar o que está acontecendo e se a doença já se espalhou para outras partes do corpo. Pode parecer assustador, mas cada passo é importante para cuidar da vida.

O tratamento também é uma jornada que precisa ser trilhada com atenção, acolhimento e respeito aos desejos de cada mulher. A cirurgia habitualmente é o primeiro passo no tratamento e a sua extensão depende do estádio do câncer, do seu subtipo e do desejo dessa mulher ter filhos no futuro. Em muitas situações, a quimioterapia entra em cena antes ou depois da cirurgia, como uma aliada contra o tumor. Tudo é decidido com cuidado, para que a paciente se sinta segura e compreendida em cada escolha.

Apesar de ser um dos tumores ginecológicos com maior índice de mortalidade, o câncer de ovário tem mais chances de cura quando descoberto no início. Por isso, informação, escuta e acolhimento são as nossas maiores armas na prevenção e no enfrentamento da doença.

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