Ele passa a integrar lista que já tinha 7 outros fatores fundamentais: exposição à nicotina, atividade física, alimentação, peso, glicemia, colesterol e pressão arterial.
Por Fernanda Bassete, da Agência Einstein
Após mais de 12 anos sem atualização de critérios, a Associação Americana do Coração (AHA) passou a recomendar o sono de qualidade como item essencial para a saúde do coração e do cérebro, ao lado da boa alimentação e da prática de exercícios físicos.
Apesar de o sono já ser considerado um fator importante para a saúde como um todo, ele estava na lista “complementar” e não “essencial”. A documentação oficial dos critérios da associação já incluía outros 7 fatores essenciais dos cuidados da saúde do coração: exposição à nicotina, atividade física, alimentação, peso, glicemia, colesterol e pressão arterial.
Agora, o sono passa a fazer parte oficialmente do checklist como o 8º item essencial para a saúde do coração. A mudança foi publicada na revista científica “Circulation”. A sugestão da entidade é de que os adultos tenham entre 7 a 9 horas diárias de sono ininterruptas para manter uma boa saúde cardiovascular.
Além do enquadramento do sono de qualidade na lista, quatro itens já incluídos anteriormente passaram a ter atualizações para avaliação:
- Há a indicação de um novo guia para avaliação da dieta do paciente;
- Exposição à nicotina inclui o tabagismo por causa dos cigarros eletrônicos e a exposição ao fumo passivo;
- A análise do colesterol não-HDL (colesterol ruim) é sugerida, em vez do colesterol total, para contabilizar os lipídios no sangue;
- A medida de açúcar no sangue deve ser expandida para avaliar a hemoglobina glicada e não apenas a glicose, medida fundamental para identificar possíveis riscos de desenvolvimento de diabetes tipo 2.
As doenças cardiovasculares são as que mais matam pessoas no mundo todos os anos. Vários estudos já demonstraram que mais de 80% das doenças poderiam ser evitadas com a adoção de um estilo de vida saudável e pelo gerenciamento adequado dos fatores de risco conhecidos.
Segundo o cardiologista Humberto Graner, coordenador do Pronto-Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia, os fatores de risco clássicos são conhecidos desde os anos 50, 60. Entre eles, estão o colesterol alto, a hipertensão e o tabagismo. Foi somente no final da década de 90 que os estudos começaram a correlacionar os distúrbios do sono com problemas do coração.
“O volume de informações e pesquisas a respeito desse tema aumentou muito. É cada vez mais claro que o sono não é somente uma questão de descansar. O sono de qualidade é essencial para a saúde como um todo e, não à toa, passamos um terço da nossa vida dormindo”, diz Graner, que ressalta que qualidade não é apenas o número de horas dormidas por dia.
“É preciso avaliar o sono num conjunto: quantas horas a pessoa dorme? Ela acorda durante a noite ou dorme a noite toda? Ela tem insônia? Tem episódios de apneia? São várias questões para serem abordadas”, complementa.
As alterações do sono, sobretudo insônia e apneia, podem causar distúrbios da pressão arterial, aumento dos níveis de colesterol e glicose no sangue (aumentando o risco de diabetes), elevação dos níveis de cortisol e adrenalina (deixando o coração mais acelerado, favorecendo o surgimento de arritimias).
Graner explica, ainda, que o nosso organismo usa o horário do sono para regular uma série de atividades endocrinológicas, hormonais e imunológicas.
“É claro que não é de uma hora para outra. Não é porque a pessoa dormiu mal no último mês que ela vai ter problema de coração. Mas o sono ruim por tempo prolongado é um problema crônico, é como uma agressão contínua”, alertou o cardiologista.
“É uma iniciativa louvável da Associação Americana porque chama a atenção só do público leigo, mas também da classe médica, que talvez não valorizasse essa questão do sono”, finalizou.