Subdiagnóstico de VSR em idosos é ameaça silenciosa à saúde


O vírus sincicial respiratório, que tem sido muito diagnosticado nos últimos meses em crianças, pode passar despercebido em adultos mais velhos

O número de casos de infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) aumentou expressivamente no Brasil durante os meses do outono de 2025, tornando-se um dos principais responsáveis por casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), na análise das semanas epidemiológicas 19 a 21, com 45% dos casos, e o segundo maior causador de óbitos relacionados no mesmo período, com 14% dos casos, segundo dados do Ministério da Saúde. De acordo com o Boletim Epidemiológico InfoGripe e do Ministério da Saúde, foram registrados 75.257 casos de SRAG no país em 2025, mas apenas 40.363 tiveram a identificação do agente causador.  Além disso, segundo o SIVEP-Gripe, mais de 47% dos óbitos por SRAG em idosos na semana epidemiológica 21 não possuem agente etiológico identificado, o que evidencia dificuldades em diagnosticar o real agente responsável por casos graves de infecção respiratória viral.

“O VSR é muito conhecido como agente de bronquiolite em crianças, mas muitas pessoas desconhecem o seu impacto em idosos, já que é frequentemente subdiagnosticado em adultos. Estudos mostram que o VSR pode ser responsável por até 15% dos casos de pneumonia adquirida em adultos. Muitos casos são confundidos com um resfriado comum, devido a sintomas como coriza, tosse, febre e mal-estar. Como raramente são realizados testes laboratoriais para identificação do vírus, já que não há tratamento específico para a maior parte das infecções respiratórias virais e o manejo é apenas o uso de medicamentos para aliviar sintomas, muitos quadros acabam não sendo diagnosticados corretamente”, explica a infectologista Lessandra Michelin (CRM 23494-RS), líder médica de vacinas da GSK.

Embora o diagnóstico em crianças seja mais comum, dados indicam que 28% dos óbitos por VSR ocorrem em adultos com 65 anos ou mais, grupo particularmente vulnerável ao agravamento da infecção, sobretudo aqueles com doenças crônicas como diabetes, Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), asma e Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). Estudos indicam que indivíduos com DPOC têm até 13 vezes mais risco de hospitalização devido a complicações do VSR; pessoas com Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC), até 7,6 vezes mais; portadores de diabetes, até 6,4 vezes; e aqueles com asma, até 3,6 vezes.

Outro aspecto importante é que as crianças pequenas, que frequentemente são infectadas pelo VSR, podem transmitir o vírus aos adultos mais velhos, como os avós. Indivíduos que convivem com crianças infectadas pelo VSR têm mais chance de contrair o vírus em casa. É a chamada infecção intradomiciliar. Pesquisas apontam que pessoas em contato com crianças com VSR tem 22,6 vezes mais chances de apresentar infecção por esse vírus. “Estamos em plena sazonalidade dos vírus respiratórios, com cocirculação importante do VSR e da influenza em várias regiões do país. A letalidade por VSR é significativamente maior nos idosos do que na população pediátrica”, afirmou a infectologista Rosana Richtmann (CRM 50470/SP) durante um webinar promovido pela GSK para debater a prevenção do VSR.

Estima-se que, globalmente, 64 milhões de pessoas sejam afetadas anualmente pelo VSR, que é transmitido de maneira semelhante à gripe e à COVID-19, por meio de gotículas expelidas ao tossir ou espirrar, pelo contato próximo com alguém infectado ou com superfícies contaminadas. A transmissão pode ocorrer um ou dois dias antes do surgimento dos sintomas e se prolongar por até oito dias, e, em casos de imunossupressão, por até quatro semanas após o desaparecimento dos sintomas.

“É fundamental alertar a população sobre os riscos do VSR para os idosos, reforçando a necessidade de medidas preventivas e da vacinação, que é uma das principais formas de proteção, especialmente para os grupos de risco”, orienta a Dra. Lessandra. “Vacinar a todos desde que nascem promove o envelhecimento não em tempo maior, mas em qualidade de vida maior. E vacinar o idoso, principalmente aqueles que chegam nos 60+, é importante para que a gente mantenha a qualidade de vida”, afirmou a geriatra Maisa Kairalla (CRM 102136/SP), também durante o webinar. Entre as recomendações para reduzir a disseminação do vírus também estão: lavar as mãos com frequência, evitar tocar o rosto com as mãos não higienizadas, cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, manter distância de pessoas doentes, desinfetar superfícies de uso frequente e permanecer em casa ao apresentar sintomas.

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