Estudo sugere que, além da “tempestade de citocinas”, uma outra resposta imune pode estar relacionada ao agravamento de casos da doença: a da bradicinina.
Uma análise conduzida por cientistas do Laboratório Nacional de Oak Ridge (ORNL), do Departamento de Energia dos Estados Unidos, aponta novos padrões de expressão gênica que podem explicar os sintomas descontrolados produzidos por uma resposta imunológica exagerada ao Sars-CoV-2. Com o auxílio do supercomputador Summit, os pesquisadores estudaram genes de células encontradas no fluido pulmonar de nove pacientes com Covid-19 e as compararam com 40 pacientes controle. Os resultados da pequisa foram publicados na eLife em julho.
A análise computacional sugere que genes relacionados ao sistema de bradicinina, um dos sistemas do nosso corpo responsáveis por abaixar a pressão arterial, parece estar excessivamente ativo no fluido pulmonar daqueles que contraíram o vírus.
Segundo os cientistas, a bradicinina — um peptídeo que provoca inflamação e dilata vasos sanguíneos, tornando-os permeáveis — é produzida em grande quantidade em pacientes graves de Covid-19, enquanto outros sistemas do nosso corpo não conseguem controlar essa superprodução.
Para Dan Jacobson, líder do estudo e cientista-chefe dos sistemas computacionais de biologia do ORNL, as pesquisas tem focado muito na “tempestade de citocinas“, mas a “tempestade de bradicinina” também pode ajudar a entender reações exageradas do sistema imunológico em sua luta contra o Sars-CoV-2 e também a definir uma nova via de tratamento para a doença, bloqueando essa segunda tempestade.
“Se pudermos bloquear essa patogênese em pacientes graves, podemos impedir que a resposta humana [imunológica] exagere e damos tempo ao sistema imunológico para combater o vírus para que os pacientes possam se recuperar”, explica Jacobson.
De acordo com os estudiosos, a tempestade de bradicinina poderia explicar varios sintomas da Covid-19, desde dores musculares e fadiga até náuseas, vômitos, diarreia, dores de cabeça e diminuição da função cognitiva — sintomas que também podem ser observados em problemas de saúde relacionados à bradicinina.
Uma super-ajuda
Graças ao supercomputador Summit, o mais potente dos Estados Unidos, capaz de fazer 200 quadrilhões de cálculos por segundo, os pesquisadores conseguiram analisar em uma semana genes expressos em pacientes graves de Covid-19 — algo que poderia durar meses se fossem usados compuradores normais.
Assim, eles descobriram um aumento na expressão de enzimas que alavancam a produção de bradicinina e uma diminuição daquelas que quebram o peptídeo. Inclusive, uma das enzimas que estava menos presente nos nove pacientes de Covid-19 analisados era a enzima conversora da angiotensina (ACE), capaz de evitar a tempestade de bradicinina.
Fonte: Revista Galileu