Transplante parcial de coração salva bebê de 17 dias nos EUA e pode revolucionar cirurgias cardíacas; entenda


Owen Monroe recebeu o primeiro transplante parcial de coração bem-sucedido em abril de 2022 — Foto: Arquivo da família

Owen Monroe nasceu azul. As artérias do seu coração, responsáveis por levar sangue aos pulmões e ao resto do corpo, estavam fundidas, restando apenas um único duto defeituoso. Em poucas horas, ele entrou em estágio terminal de insuficiência cardíaca, dependente de 20 a 30 medicamentos intravenosos para se manter vivo.

Para corrigir o defeito cardíaco, conhecido como truncus arteriosus, médicos geralmente recorrem a uma cirurgia arriscada. Quase metade dos bebês não sobrevive ao primeiro mês após o procedimento, e dois terços morrem antes de completar um ano.

Foi então que o Dr. Joseph Turek, chefe de cirurgia cardíaca pediátrica do Centro Médico da Universidade Duke, propôs uma abordagem inédita: um transplante parcial de coração, utilizando válvulas, artérias, veias e músculos de um órgão doador para reconstruir o coração de Owen.

— Perguntei a ele: “Quantas vezes já fez isso antes?” — contou Tayler Monroe, mãe do menino. — Ele respondeu: “Bem, já fiz isso em cinco leitões.”

Tayler e o marido, Nick, aceitaram o risco. Em 22 de abril de 2022, após oito horas de cirurgia, o Dr. Turek realizou o primeiro transplante parcial de coração bem-sucedido em um bebê. Owen tinha apenas 17 dias de vida e um coração do tamanho de um morango.

Owen é uma das menos de 50 pessoas no mundo submetidas a esse tipo de operação, que oferece uma nova forma de reparar defeitos cardíacos graves com tecido vivo. A maioria foi realizada na Duke, e um estudo publicado na quarta-feira no Journal of the American Medical Association apresenta a primeira análise sistemática do procedimento, acompanhando Owen e outros 18 pacientes com idades de dois dias a pouco mais de 30 anos.

Grande parte dessas cirurgias ocorre em formato “dominó”: um paciente recebe um coração novo, e o órgão substituído, embora doente, fornece válvulas em boas condições para outros pacientes, explicou Turek.

Os pesquisadores verificaram que as válvulas transplantadas se mantêm saudáveis e, nos bebês, chegam a crescer com o corpo. Mas o período médio de acompanhamento foi de apenas seis meses, e não há dados conclusivos sobre a durabilidade a longo prazo.

Nos Estados Unidos, mais de 2.000 crianças e 100.000 adultos aguardam na fila por transplantes. Órgãos de doadores são escassos, e muitos são descartados por não servirem para transplantes completos — um problema crescente, como já noticiado pelo New York Times.

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