Três em cada quatro casos de câncer de boca e laringe são diagnosticados nos homens e em fase avançada


No Brasil, os cânceres de cavidade oral e laringe totalizam 22.890 novos casos previstos para 2023, sendo 17.470 (76%) nos homens. Cerca de 70% a 80% desses tumores são diagnosticados em fase avançada, aumentando a complexidade do tratamento. Em alusão ao Julho Verde, mês de conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) destaca os sinais e sintomas que podem aumentar as taxas de diagnóstico precoce

Mais de 1,5 milhão de novos casos de câncer de cabeça e pescoço são registrados, todos os anos, no mundo, segundo o levantamento Globocan, do IARC, entidade que é o braço de pesquisa do câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS). O número de mortes anuais gira em torno de 460 mil pessoas. No Brasil, os dois tipos de tumores de cabeça e pescoço mais comum nos homens são de cavidade oral e laringe. A cavidade oral corresponde a gengivas, língua, lábio, soalho bucal (a parte que fica embaixo da língua), palato duro (céu da boca), e a área atrás dos dentes do siso (retromolar).

Os cânceres de cavidade oral e laringe totalizam 22,8 mil casos anuais no Brasil (17,4 mil deles entre os homens, o que equivale a 76%, ou seja, três em cada quatro casos). Individualmente, o câncer de cavidade oral é mais de duas vezes mais incidente na população masculina (10.900 casos entre eles e 4.200 casos em mulheres). Já o câncer de laringe é cinco vezes mais comum entre os brasileiros quando comparado com as brasileiras: 6.570 e 1.220 novos casos/ano, respectivamente). Os dados são das estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023/2025.

Os tumores de cabeça e pescoço – excetuando de tireoide – são diagnosticados em fase avançada em 70% a 80% dos casos. A descoberta da doença em fase avançada torna o tratamento mais complexo e com menor chance de sucesso. As principais causas de câncer de cabeça e pescoço são conhecidas (tabagismo, consumo de álcool e infecção pelo vírus HPV) e, portanto, são doenças evitáveis. Além disso, a atenção aos sinais também ajuda no diagnóstico precoce. Outras causas são lesões pré-malignas, baixa resposta imunológica e infecção pelo vírus Epstein-Barr.

Por haver evidências de quais são as etiologias (causas) da maioria dos subtipos de câncer de cabeça e pescoço, é importante que os médicos e demais profissionais de saúde de outras especialidades – como os dentistas, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas – conheçam melhor os tumores de cabeça e pescoço e sejam capazes de contribuir com a descoberta mais precoce da doença, ressalta, o cirurgião oncológico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, Héber Salvador. Este, aliás, é um dos propósitos da campanha Julho Verde, em especial, do Dia Mundial de Conscientização e Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço, celebrado no dia 27.

Diagnóstico em fase avançada aumenta a complexidade do tratamento

O tratamento cirúrgico é primordial para tumores de cavidade oral e tireoide e a avaliação do cirurgião de cabeça e pescoço é fundamental para selecionar a melhor opção de tratamento para tumores de laringe e faringe. A forma de abordagem vai depender do tipo de câncer, estadiamento (fase de diagnóstico) e outras características clínicas do paciente, como a idade. Quanto mais inicial é a descoberta da doença, maior é a chance de o tumor ser ressecável (passível de cirurgia) e de forma menos agressiva, o que resulta em menos sequelas e melhor qualidade de vida.

CANCER DE CAVIDADE ORAL

“As lesões que não cicatrizam em até duas ou três semanas, devem chamar a atenção, destaca o cirurgião de cabeça e pescoço Carlos Santa Ritta, vice-coordenador da Comissão de Cabeça e Pescoço da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO)”. Santa Ritta explica também que a cirurgia oncológica pode não ser indicada quando há um risco de complicação severa, algo que costuma acontece com as lesões mais volumosas e agressivas.

“Por exemplo, em um tumor que acomete toda a língua. O paciente precisaria fazer uma cirurgia com a remoção completa dela. Isso é incompatível com uma qualidade de vida aceitável”, avalia. Nesses casos, afirma o especialista, pode-se pensar em um tratamento neoadjuvante (quimioterapia ou radioterapia antes da cirurgia), de tal forma que o tumor reduza e passe a ser ressecável. “Há também situações em que o tumor é retirado e se faz o tratamento adjuvante (quimioterapia ou radioterapia após a cirurgia)”, acrescenta.

Os principais sintomas de câncer de cavidade oral, que podem variar de acordo com a localização e estágio da doença, são:

  • Leucoplasia: área esbranquiçada na cavidade oral, parecida com uma afta, que não melhora
  • Eritroplasia: mancha vermelha persistente na cavidade oral, que pode sangrar
  • Ferida na boca que não cicatriza, após 15 dias
  • Perda ou amolecimento de dentes
  • Nódulo no pescoço
  • Massa ou nódulo na língua, nas gengivas ou no rosto
  • Dificuldade para mexer a língua, mastigar ou engolir alimentos
  • Mau hálito constante
  • Perda de peso inesperada

Ao observar alguma alteração suspeita é importante buscar avaliação de um cirurgião oncológico, cirurgião de cabeça e pescoço, ou otorrinolaringologista. O cirurgião-dentista também tem papel importante no diagnóstico, já que na maioria das vezes é o primeiro profissional a atender o paciente. Após o exame clínico, se houver suspeita do câncer, será necessária a realização de biópsia. Nesse procedimento remove-se parte da área suspeita de câncer para análise microscópica. Esse tipo de exame pode exigir o uso de anestesia local ou geral, a depender da localização do tumor. Com diagnóstico precoce, as chances de cura (o paciente estar vivo cinco anos após o diagnóstico) superam os 90%.

PREVENÇÃO DE CÂNCER DE CAVIDADE ORAL

  • Não fumar
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas
  • Manter o peso corporal adequado
  • Manter boa higiene bucal
  • Usar preservativo (camisinha) na prática do sexo oral
  • Tomar a vacina contra o Papilomavírus Humano-HPV

CÂNCER DE LARINGE

Localizada no pescoço, acima da abertura da traqueia, a laringe é o órgão onde estão as cordas vocais. Ela apresenta três partes: supraglote: logo acima das cordas vocais. Tem a função de proteger a via aérea durante a deglutição e impedir que alimentos e líquidos entrem nos pulmões; glote onde estão as cordas vocais e a subglote: fica localizada abaixo das cordas vocais. A maioria dos casos de câncer de laringe se desenvolve na glote. E mais de 90% dos casos são do tipo carcinoma de células escamosas. Os principais fatores que têm relação com o desenvolvimento do câncer de laringe são o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas, especialmente a combinação dos dois.

Santa Ritta explica que a atenção a um simples sintoma, como rouquidão, já seria capaz de aumentar exponencialmente as taxas de diagnóstico precoce no país. “O ideal é que qualquer pessoa que apresente um padrão de voz diferente e persistente, procure um especialista, como um fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista. A rouquidão persistente não pode ser negligenciada, pois ela já pode representar uma lesão na prega vocal e precisa ser avaliada por um exame de videolaringoscopia.

Quanto mais precoce é o diagnóstico, acrescenta Santa Ritta, maior é a probabilidade de preservar a laringe. “A tomada de decisão por uma laringectomia total ou parcial vai depender do grau de comprometimento. Por exemplo, se o se o comprometimento é exclusivo de uma prega vocal, o cirurgião tem como optar pela cirurgia parcial. Além disso, há menor risco de impactar na capacidade deglutição e fonação”, acrescenta.

Os principais sintomas de câncer de laringe, que podem variar de acordo com a localização e estágio da doença, são:

  • Rouquidão ou alterações na voz;
  • Dificuldade para engolir alimentos ou sensação de algo preso na garganta;
  • Dor de garganta ou de ouvido persistentes;
  • Caroço no pescoço;
  • Tosse constante;
  • Problemas respiratórios;
  • Perda de peso sem motivos.

Os sintomas podem não ter relação com o câncer de laringe, mas é preciso estar atento e consultar um médico especialista para uma avaliação mais precisa.

Ao observar alguma alteração suspeita é importante o paciente buscar avaliação de um médico otorrinolaringologista ou cirurgião de cabeça e pescoço. Além do exame clínico, o médico pode solicitar a realização de uma laringoscopia, exame que pode ser feito no consultório, com a possibilidadede coleta de fragmentos da lesão (biópsia) se for identificada suspeita para a confirmação ou não do câncer.

PREVENÇÃO DE CÂNCER DE LARINGE

  • Não fumar nenhum produto e evitar o tabagismo passivo
  • Evitar o consumo excessivo e constante de bebidas alcoólicas
  • Manter o peso corporal adequado
  • Cuidar da saúde da voz

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