O álcool não apresenta benefícios diretos à saúde quando consumido diariamente, segundo os pesquisadores
A ideia de que beber uma taça de vinho ao fim do dia, como uma recompensa, representa uma maior chance de longevidade se tornou uma crença defendida há décadas. No entanto, uma metanálise de 107 estudos, publicada na revista científica Journal of Studies on Alcohol and Drugs, questiona essa conhecida concepção sobre o consumo de álcool.
Pesquisadores do Canadá mostraram que nestes estudos os bebedores moderados (aqueles que bebiam entre uma bebida por semana e duas por dia) foram comparados a grupos de “abstêmios” e “bebedores ocasionais” (especialmente adultos mais velhos que pararam ou reduziram o consumo de álcool porque estavam com problemas de saúde).
Ou seja, aqueles com o hábito de beber se saíam melhor nos resultados pois o outro lado da moeda, que não bebia diariamente, eram pessoas doentes.
“Isso faz com que as pessoas que continuam bebendo pareçam muito mais saudáveis em comparação”, afirma Tim Stockwell, cientista do Instituto Canadense de Pesquisa sobre Uso de Substâncias da Universidade de Victoria e um dos autores do estudo, em comunicado.
Os pesquisadores defendem que consumir álcool de forma moderada não prolonga a vida. Pelo contrário, traz alguns riscos potenciais à saúde, como câncer, doenças cardíacas, pressão alta, derrame e doença hepática.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe um padrão de consumo de álcool absolutamente seguro. As principais diretrizes do órgão definem como moderado duas doses ao dia para homens e uma dose para mulheres. Cada dose corresponde a uma lata de 350 ml de cerveja, uma taça de 150 ml de vinho ou 45 ml de destilado, como vodca ou gim.
Redução da expectativa de vida
Em um estudo anterior, Stockwell mostrou que aqueles que bebem significativamente mais álcool do que isso — cerca de 35 doses por semana — podem reduzir dois anos da expectativa de vida. A pesquisa também indicou que quem consume uma bebida alcoólica por dia, independente de qual seja, uma caneca de cerveja, uma taça de vinho, uma dose de vodca, pode encurtar sua expectativa de vida em aproximadamente dois meses e meio.
“Ser capaz de beber é um sinal de que você ainda está saudável, não a causa de estar com boa saúde. Há muitas maneiras pelas quais esses estudos dão resultados falsos que são mal interpretados como se o álcool fosse bom para você”, defende Stockwell.
JORNAL O GLOBO