Pesquisas associam uso exagerado de eletrônicos a problemas como baixa autoestima e satisfação social, depressão, ansiedade e distúrbios de sono
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Mais conectados, porém mais tristes e sozinhos. Esse paradoxo reflete o perigo do mau uso das redes sociais. Tanto que não faltam dados relacionando o excesso de eletrônicos a problemas como baixa autoestima e satisfação social, depressão, ansiedade e distúrbios de sono. Mas, então, por que tanta gente ainda vive grudada nas telas?
Por um lado ,ninguém discute que elas facilitam contatos, encontros, interações e troca de informações. E tiveram papel fundamental na pandemia, aproximando quem estava longe, inclusive dentro das unidades de terapia intensiva (UTI). Por outro, sabe-se que elas são pensadas quase como que para viciar. Trata-se do mesmo mecanismo de recompensa que ativa neurotransmissores associados à expectativa diante de um prêmio ou atividade prazerosa. Por isso é tão difícil parar.
Além disso, direcionam o que a pessoa vê de acordo com suas preferências e convidam o usuário a passar horas completamente absorto, num fenômeno que alguns especialistas chamaram de dissociação – quando a pessoa perde o senso de autoconsciência e da passagem do tempo.
Recentemente, num painel apresentado por pesquisadores numa conferência sobre interação homem-máquina em New Orleans, nos Estados Unidos, pesquisadores alertaram que isso pode comprometer o gerenciamento de tarefas no dia a dia e os objetivos de vida. No final, fica apenas a sensação de perda de tempo – desperdiçado apenas na barra de rolagem.
Antes mesmo da pandemia, pesquisadores americanos da West Virginia University já haviam soado o alerta. Intrigados em saber o impacto das experiências online na solidão, avaliaram mais de mil alunos com idades entre 18 e 30 anos. Resultado: para cada 10% de aumento nas interações ruins, os participantes relatavam um crescimento de 13% na sensação de estar sozinho. Mas o oposto não ocorreu: o mesmo aumento nas experiências boas não melhorou apercepção de isolamento.
“O problema é que as redes sociais só mostram coisas boas, momentos felizes, comemorações de conquistas. A pessoa compara com sua vida, com suas experiências e até com sua aparência e acaba se sentindo inferior”, observa Victoria Domingues, psicóloga do Hospital Israelita Albert Einstein.
Pior ainda no caso dos adolescentes, fase em que a pessoa está mais em busca da aprovação do grupo. “Os cliques acabam refletindo no humor”, diz a especialista. “Estamos vendo uma geração cada vez mais ansiosa e deprimida.”
Sabe-se que as redes vieram para ficar, mas para tirar proveito do lado positivo delas, vale ficar atento a alguns sinais de alerta. Quando checar o celular é a primeira coisa que a pessoa faz antes de sair da cama, se prefere ficar em casa em vez de sair com amigos ou a família ou de fazer outras atividades saudáveis como exercícios, se passa a se comparar com os outros ou apresenta piora no rendimento escolar ou no trabalho é hora de repensar seus hábitos.
“É preciso lembrar que elas provocam dependência”, frisa Victoria. “O uso não pode interferir nas atividades diárias a ponto de atrapalhar o trabalho, o sono, a boa alimentação, o convívio com os demais”, completou a psicóloga.