Uso excessivo de telas aumenta risco de olho seco em crianças, aponta estudo


O estudo também indicou que quanto mais tempo a criança usa o smartphone, menor é a taxa de intermitência (tempo entre uma piscada e outra)

Embora o olho seco seja uma doença mais prevalente em adultos, especialmente após os 40 anos, também pode afetar o público infantil. Ou seja, crianças podem desenvolver a síndrome do olho seco, apesar de ser mais raro. E um dos principais fatores de risco é o uso prolongado de telas

Um estudo, publicado no periódico Clinical Epidemiology and Global Health, apontou que existe uma associação importante entre o uso prolongado de smartphones e o risco aumentado de desenvolver doenças da superfície ocular. Para além disso, o estudo também indicou que quanto mais tempo a criança usa o smartphone, menor é a taxa de intermitência (tempo entre uma piscada e outra).

Olho seco afeta superfície ocular

Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra e especialista em estrabismo, o olho seco é uma doença que afeta a superfície ocular. Esta região é composta pela córnea, esclera, episclera e conjuntiva. “A saúde dessa área ocular depende do bom funcionamento de algumas glândulas, como as sebáceas e as lacrimais. Estas glândulas produzem substâncias que compõem o filme lacrimal, popularmente chamado de lágrima”.

“A lágrima tem três camadas: a aquosa, a gordurosa e a mucosa. Toda vez que piscamos, o filme lacrimal se espalha na superfície ocular, lubrificando, nutrindo e protegendo a região. Entretanto, existem algumas condições que podem alterar o funcionamento das glândulas lacrimais e sebáceas dos olhos. Quando o problema é nas glândulas sebáceas, ocorre o olho seco evaporativo. Já as alterações nas glândulas lacrimais acarretam o olho seco por deficiência aquosa”, explica Dra. Marcela.

O olho seco evaporativo corresponde à maioria dos casos da doença, seja na infância ou na vida adulta.

Celular não é o único culpado

Apesar do uso excessivo das telas aumentar a chance de desenvolver o olho seco na infância, há outros fatores de risco, como:

  • Alergias oculares
  • Doenças autoimunes como síndrome de Sjogren e artrite reumatoide
  • Conjuntivite e ceratoconjuntivite
  • Inflamação e danos na superfície ocular
  • Anormalidades neurossensoriais
  • Blefarite e disfunção das glândulas sebáceas das pálpebras
  • Uso de lentes de contato
  • Rosácea
  • Deficiência de vitamina A
  • Má nutrição em geral
  • Uso de medicamentos tópicos e sistêmicos para acne, anti-histamínicos e colírios com cloreto de benzalcônio na fórmula

Sintomas vão além da secura ocular

O olho seco na infância pode ser bastante desconfortável e afetar a visão, com impactos na aprendizagem, nos esportes e em outras áreas da vida.

Vale esclarecer que a secura ocular é apenas um dos sintomas do olho seco. Aliás, isoladamente, o ressecamento dos olhos não é suficiente para determinar o diagnóstico.

“A secura pode vir acompanhada de irritação, coceira, vermelhidão na conjuntiva, sensação de areia nos olhos, lacrimejamento, visão embaçada, sensibilidade à luz, desconforto ao usar lentes de contato e acúmulo de remelas nos cantos dos olhos, próximos ao nariz”, aponta Dra. Marcela.

Tratamento passa pela mudança de hábitos

“As crianças com síndrome do olho seco precisam mudar certos hábitos. O primeiro é reduzir, ao máximo, o uso das telas. O problema dos dispositivos eletrônicos é a redução do número de piscadas. A tendência quando usamos um celular, por exemplo, é de piscar menos vezes e isto pode afetar a superfície ocular, bem como agravar os sintomas”, diz Dra. Marcela.

Aqui vai uma dica: como pode ser quase impossível inibir o uso das telas, o ideal é fazer pausas a cada 20 minutos de uso. Os pais também podem orientar a criança a piscar mais vezes enquanto estiverem em frente às telas.

Outro cuidado importante é manter os ambientes da casa com boa umidade no ar. Em períodos mais secos do ano, por exemplo, a recomendação é usar umidificadores de ar. O ar também fica mais seco quando o ambiente é climatizado com ar-condicionado. Portanto, a regra da umidificação também serve nestes casos.

O uso de compressas mornas, para amolecer as secreções acumuladas nos ductos das glândulas sebáceas, pode ajudar a melhorar a qualidade do filme lacrimal. Também é preciso garantir que a criança tenha um bom aporte de nutrientes, especialmente de vitamina A.

“Caso os pais notem a presença de sinais e sintomas do olho seco, o ideal é procurar um oftalmopediatra para uma avaliação. Vale lembrar que não se deve usar colírios sem prescrição médica, especialmente em crianças”, finaliza Dra. Marcela.

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