Pesquisadores avaliaram dados de mais de 11 mil adultos chineses e constataram a importância de acompanhar a saúde mental durante o envelhecimento.
Por Fernanda Bassete, da Agência Einstein
Ter uma saúde mental vulnerável, como viver sozinho, deprimido e infeliz, acelera o envelhecimento tanto quanto outras condições que impactam a saúde, como fumar. A constatação é de um estudo realizado por pesquisadores chineses que reforça a importância de darmos atenção não apenas ao envelhecimento biológico, mas também ao envelhecimento psicológico.
Os resultados foram publicados na revista científica “AgingUs” e foram obtidos por meio de um “relógio do envelhecimento”, um modelo estatístico que usou dados de exames de sangue do Estudo Longitudinal de Saúde e Aposentadoria da China com informações de mais de 11.914 adultos com mais de 45 anos. As informações foram analisadas pelos cientistas, que fizeram a conexão entre os aspectos físicos e psicológicos do envelhecimento.
Os pesquisadores mediram a idade biológica dos idosos em comparação com a cronológica usando 16 biomarcadores sanguíneos (como colesterol, triglicérides, glicemia e hemoglobina glicada) e outros 7 parâmetros biométricos e chegaram à conclusão de que é preciso ter companhia e viver em um ambiente psicologicamente positivo para ter uma longevidade saudável.
Segundo a pesquisa, o relógio detectou o envelhecimento acelerado em pessoas com problemas cardiovasculares, pulmonares e hepáticos. Mas o que surpreendeu foi a constatação de que os fatores psicológicos (entre eles viver sozinho, sentir-se sem esperança ou infeliz) somaram 1,65 ano à idade biológica – uma soma de anos maior do que outros aspectos esperados, como sexo biológico, moradia, estado civil e tabagismo.
Segundo a médica geriatra Thaís Ioshimoto, do Hospital Israelita Albert Einstein, outros estudos já associavam o fato de viver sozinho e ser homem, por exemplo, ao risco de morrer mais cedo. “O interessante deste trabalho é que ele compara o risco do envelhecimento com outras variáveis, como o tabagismo. Isso é um parâmetro que torna os resultados mais palpáveis para a população”, afirmou a médica.
Segundo Thaís, os resultados têm um impacto na saúde populacional e em possíveis ações de saúde pública porque reforçam a importância de o idoso se manter ativo e com uma rede de contatos sociais. “Somos seres humanos, não sabemos viver sozinhos. A solidão é um fator estressante e ainda não sabemos mensurar isso. Está cada vez mais comprovado que a solidão tem impacto direto na saúde mental, na longevidade e na qualidade de vida”, diz.
Segundo Thaís, a recomendação é que as pessoas mais velhas se engajem em alguma comunidade, alguma rede de contato social, participem de atos coletivos para sempre terem uma rede de apoio ativa. “E isso deve ser feito desde quando somos adultos jovens. Quanto mais velhos e mais tarde começarmos, mais difícil fica de se engajar”, finalizou.