Ligada ao estresse, doença rara afeta principalmente mulheres no período pós-menopausa e seus sintomas se assemelham muito ao infarto.
Parece coisa de romance, mas a síndrome do coração partido, ainda que rara, é bem real. Também chamada de Cardiomiopatia de Takotsubo – nome dado pelos pesquisadores japoneses que primeiro a estudaram em 1990 –, esta condição é caracterizada por uma dilatação do ventrículo esquerdo do coração, geralmente desencadeada por uma descarga de adrenalina causada por estresse emocional ou físico muito grande, como a perda súbita de um ente querido ou outra fatalidade. Em ocasiões mais raras, a síndrome também pode ser causada por um excesso de felicidade.
“O coração fica fraco, não consegue bombear o sangue para o corpo e o paciente apresenta um quadro de insuficiência cardíaca”, explica a médica Salete Nacif, cardiologista do Hospital do Coração (HCor). Ela conta que, na fase aguda da síndrome, seus sintomas são muito parecidos aos de um infarto do miocárdio: fortes dores no peito, falta de ar, fraqueza generalizada. “Até mesmo as alterações em exames como eletrocardiograma e de enzimas cardíacas são semelhantes.” Como então diferenciar um quadro de Takotsubo de um infarto?
A verdade está na ponta do cateter”, diz Evandro Tonico Mesquita, médico coordenador da Universidade do Coração da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). “É ele que mostrará se as artérias coronárias estão entupidas ou abertas e livres de lesão.” Se entupidas, trata-se de infarto. Se livres, Takotsubo. Uma vez feito o diagnóstico, Mesquita explica que é possível controlar os sintomas com remédios que possam diminuir o estresse do coração, como bloqueadores alfa e beta-adrenérgicos. “Ainda existe muita imprecisão sobre medicamentos cientificamente comprovados que possam tratar a Takotsubo. Em casos muito extremos, pode até ser preciso colocar temporariamente um suporte mecânico circulatório no coração, enquanto se espera que o órgão se recupere.”
Geralmente, os sintomas da cardiomiopatia desaparecem em poucos dias, ainda que, segundo Mesquita, em 10 ou 15% dos pacientes, a condição pode ser recorrente perante um novo gatilho. O número se aproxima dos casos de mortalidade: de acordo com registros da SBC, cerca de 10% dos pacientes acometidos pela síndrome podem vir a falecer. “Ainda existe muito a ser entendido sobre o mecanismo complexo dessa síndrome”, conta Nacif. “Não é todo mundo que leva um susto muito grande e desencadeia a cardiomiopatia. Então deve existir alguma característica genética que facilita essa resposta do coração. Mas o que faz o paciente evoluir desfavoravelmente para óbito é a falta de suporte adequado para a insuficiência cardíaca na fase aguda.”
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