Médica ginecologista explica sobre as doenças, que apesar de benignas, podem impactar a saúde reprodutiva da mulher e dificultar a gravidez
Duas doenças benignas, que acometem as mulheres e são ligadas ao útero, geralmente impactam a saúde reprodutiva e podem dificultar as tentativas de gravidez. Uma delas é a endometriose, já mais popularmente conhecida, e caracterizada pela presença de células do endométrio – que reveste internamente a parede do útero – em outros órgãos da pelve feminina, como os ovários, trompas e até nos intestinos e na bexiga. Sua parente mais desconhecida é a adenomiose,
caracterizada pela presença do endométrio na camada muscular do útero (miométrio). Em geral acomete mulheres entre 40 e 50 anos, mas pode ser encontrada nas mais jovens.
De acordo com a ginecologista da Clínica Origen BH da Márcia Mendonça Carneiro, professora associada do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, atualmente tem se debatido se ambas seriam apresentações diferentes de uma mesma doença ou realmente patologias distintas. “A origem embriológica comum é um dos argumentos que apoiam que adenomiose e endometriose sejam quadros de uma mesma doença”, diz.
Questionada porque se fala mais em endometriose do que em adenomiose, a médica explica que provavelmente é pelo fato de a endometriose atingir mulheres mais jovens, o que acaba acarretando muitas mudanças em suas vidas. “Na atualidade, a endometriose é um tema relevante devido à sua alta prevalência e sua interferência negativa na qualidade de vida das mulheres em plena fase reprodutiva. A doença pode levar ao desgaste físico e mental das pacientes acometidas, especialmente porque são frequentes as falhas diagnósticas e o atraso entre o início dos sintomas até a confirmação da doença pode chegar a oito anos”, observa.
Sintomas parecidos, mas distintos
Os sintomas de ambas as doenças ora são parecidos, ora diferentes. “A adenomiose pode ser assintomática ou causar aumento do sangramento menstrual, dor pélvica e cólicas menstruais. Já a endometriose pode causar cólicas menstruais e infertilidade, além de sintomas como dor durante as relações sexuais, dor ao evacuar e dificuldade para urinar. Até 20% das mulheres, entretanto podem ser assintomáticas”, acrescenta Márcia Mendonça.
A endometriose atinge em geral uma em cada 10 mulheres em idade reprodutiva; já a adenomiose atinge mulheres na faixa entre 40 a 50 anos, mas com o avanço das técnicas diagnósticas, como a ultrassonografia transvaginal e a ressonância magnética, a acurácia para diagnóstico de ambas melhorou e a adenomiose tem sido identificada
mais cedo e em mulheres mais jovens. O diagnóstico definitivo da adenomiose só pode ser feito a partir de exame histológico (biópsia) de uma amostra de tecido uterino, em geral após a remoção do útero (histerectomia).
Prevenção e gravidez
Não há como prevenir nenhuma das duas. Os cuidados com a saúde reprodutiva são vários e incluem: dieta saudável, manutenção do peso, atividade física regular, uso de
preservativo para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e, sobretudo, planejar a maternidade, caso a mulher tenha planos de engravidar.
“Alguns estudos descrevem a associação da adenomiose com doenças que podem interferir na fertilidade, como a endometriose, miomas e pólipos. Além disso, a adenomiose pode produzir alterações bioquímicas no endométrio (camada interna do útero) interferindo na implantação do embrião e reduzindo as taxas de gravidez. Não há, entretanto, até o momento, nenhum tratamento comprovadamente eficaz disponível para a adenomiose em mulheres inférteis”, acrescenta a ginecologista.
Recentemente, a médica Márcia Mendonça, integrante da Comissão Nacional Especializada de Endometriose (CNE) da Federação Brasileira de Associações de Ginecologistas e Obstetras (Febrasgo), participou da elaboração dos protocolos de endometriose e adenomiose, ferramentas importantes para orientar profissionais nas suas atividades diárias no consultório e/ou hospitais no diagnóstico e tratamento dessas doenças. A médica da Origen também integrou a equipe de elaboração do Position Statement, documento que traz orientações sobre a questão da preservação da fertilidade em mulheres com endometriose e publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (RBGO).
“O tema da preservação da fertilidade também é relevante, pois a doença é benigna e embora nem toda mulher com endometriose tenha infertilidade, a questão precisa ser discutida principalmente devido ao adiamento da maternidade, cada vez mais frequente. Embora ainda seja cedo para definir a preservação da fertilidade como padrão de tratamento para todas as mulheres com endometriose, o tema deve ser
abordado, principalmente aquelas com endometriomas (cisto de endometriose) ovarianos. O congelamento de óvulos e de embriões são as opções disponíveis atualmente”, diz.
Para tratar a adenomiose, utilizam-se medicação e cirurgia conservadora, que mantém o útero. Já o tratamento da endometriose pode incluir uso de medicamentos, cirurgia ou envolver a combinação de ambos. A escolha da modalidade de tratamento depende da presença e do tipo de sintomas, assim como do desejo de engravidar ou não. Independente da modalidade terapêutica escolhida, o objetivo principal é o alívio da dor, a obtenção de gravidez e a prevenção do retorno da doença.