Estudo inédito relata ganhos na qualidade de vida e alívio em sintomas como fadiga e dores musculares em pacientes que manifestaram a forma grave da doença
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Uma pesquisa inédita feita pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) acaba de demonstrar que a atividade física melhora a qualidade de vida e ameniza os sintomas da Covid longa em pacientes que tiveram a forma grave da doença. O estudo acaba de ser publicado no British Journal of Sports Medicine.
Ainda há poucos estudos sobre os benefícios da atividade física nesses casos. Para testar a hipótese, os pesquisadores acompanharam 50 pacientes que tinham recebido alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) havia cinco meses, em média. Eles foram divididos em dois grupos: enquanto metade seguiu um programa de exercícios online, os demais serviram de controle e receberam atendimento padrão.
Durante 16 semanas, os participantes praticaram exercícios em casa, incluindo aeróbicos e de força, três vezes por semana em sessões de 60 a 80 minutos. O grupo foi parcialmente supervisionado: em alguns casos, um pesquisador acompanhava o paciente em tempo real; em outros, a pessoa seguia sozinha as orientações, mas sempre reportando os resultados. O volume, a intensidade e a complexidade dos exercícios foram crescentes ao longo do programa, de acordo com a capacidade de cada um, à medida que evoluíam.
Ao comparar os resultados dos dois grupos, aqueles que fizeram exercícios tiveram uma melhora significativa na qualidade de vida e na saúde geral, além de sintomas como fadiga, fraqueza e dor muscular, em relação ao grupo controle. Os dados também sugerem ganhos na capacidade funcional, função cardiorrespiratória e pulmonar.
“Constatamos que a atividade física é um meio seguro que ajuda na recuperação dos pacientes que sofrem com os efeitos da Covid longa e que, pode, potencialmente, ser implementado em larga escala como um tratamento coadjuvante nesses casos”, diz o pesquisador Hamilton Roschel, coordenador do grupo de pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e um dos líderes do trabalho.
A chamada síndrome da Covid longa afeta algo entre 10% e 80% dos pacientes e é caracterizada quando sintomas como fadiga ou falta de ar duram mais do que 12 semanas após a infecção sem nenhuma outra explicação, afetando a qualidade de vida. Os pacientes também podem sofrer com problemas cardiovasculares, respiratórios, musculoesqueléticos, metabólicos e psicológicos. Estudos mostram que, quanto mais grave o quadro de Covid, piores as consequências a longo prazo da doença.
“Mas, antes de começar a se exercitar, é preciso passar pelo aval médico, já que a Covid pode incorrer em sequelas mais graves, que impedem o início imediato de um programa de exercícios”, lembra Roschel.