Em alguns casos, os sintomas provocados pelos nódulos comprometem muito mais a saúde física e psicológica da paciente, atrapalhando as atividades do seu dia a dia
Por Thais Szegö, da Agência Einstein
A estimativa é de que metade da população feminina em idade fértil tenha miomas em seu útero. No entanto, entre 70 e 80% delas não apresentam sintomas. Mas as que apresentam sangramento intenso e frequente, cólicas, aumento abdominal e/ou o desconforto durante as relações sexuais, entre outros sintomas, podem sofrer um impacto muito significativo na qualidade de vida e na saúde física e mental. Foi o que apontou recentemente uma revisão de artigos científicos realizada nos Estados Unidos e publicada no início deste ano no periódico Fertility and Sterility.
Outro trabalho norte-americano, publicado na revista científica Obstetrics & Gynecology, foi ainda mais longe e revelou que as participantes que haviam se submetido a uma histerectomia, a retirada cirúrgica do útero por causa de sintomas relacionados aos miomas, apresentaram um comprometimento de sua qualidade de vida antes da operação maior do que as que tinham sido diagnosticadas com doença pulmonar crônica, artrite, hipertensão ou doenças cardíacas.
A explicação para esse impacto no dia a dia envolve questões físicas, que variam e podem ser bem intensas, dependendo do tamanho, da quantidade e da localização dos miomas. Quando é submucoso, ou seja, está localizado na camada interna do útero, onde fica o endométrio, por exemplo, o nódulo costuma levar a um fluxo menstrual bem aumentado ou mesmo a um sangramento acentuado fora do ciclo menstrual, o que muitas vezes desencadeia anemia.
Já miomas muito volumosos podem causar inchaço abdominal e peso na região. “Além disso, podem gerar alterações metabólicas no organismo e, dependendo de onde estiverem instalados, causar a compressão urinária ou intestinal, atrapalhando ou comprometendo o momento em que ela tem que urinar ou evacuar e provocando bastante desconforto”, explica o ginecologista e obstetra Mauricio Abrão, professor de ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Tudo isso sem falar nas fortes cólicas e no desconforto durante a relação sexual.
Segundo especialistas ouvidos pela Agência Einstein, o aspecto emocional dessas pacientes também acaba abalado. “Muitas ficam ansiosas na hora de sair de casa, com receio de manchar a roupa por causa do sangue ou ter uma crise de cólica, por exemplo. A nossa sociedade, infelizmente, não entende bem esse tipo de problema feminino”, diz o ginecologista e obstetra Eduardo Zlotnik, vice-presidente do conselho do Hospital Israelita Albert Einstein.
Mesmo com a dificuldade de conviver com esses incômodos, as mulheres se sentem obrigadas a cumprir todas as responsabilidades do cotidiano, sem deixar a produtividade cair. Como muitas vezes os sintomas são intensos demais, os médicos explicam que muitas pacientes ficam ansiosas e culpadas por não dar conta de tudo. E todos esses fatores podem acabar prejudicando as relações familiares, sociais e profissionais, aumentando ainda mais essa bola de neve.
A importância do tratamento adequado
Como a maioria dos miomas é assintomática, eles só são descobertos durante os exames de rotina indicados pelo ginecologista. Se forem pequenos e não estiverem causando problemas, o especialista vai acompanhar o quadro para ver se há mudanças importantes. Mesmo assim, é essencial que o médico seja consultado diante de qualquer sintoma que cause estranheza. “As mulheres são resistentes à dor, por isso, a maior parte delas acha que é algo normal e vai adiando o tratamento, contornando a situação com remédios, o que pode fazer com que o quadro se agrave”, alerta Zlotnik.
Caso seja necessário tratar o problema, existem várias opções disponíveis na medicina. Se o sangramento não for muito importante, podem ser utilizados hormônios, como os presentes nas pílulas anticoncepcionais, remédios que melhoram a coagulação do sangue e anti-inflamatórios que diminuam a cólica e o sangramento.
Existe outro grupo de medicamentos que ajuda a bloquear a produção dos hormônios, reduzindo os sintomas. “Mas eles não podem ser usados a longo prazo porque causam efeitos colaterais, como a diminuição da resistência dos ossos. Por isso, podem ser utilizados em situações pontuais, como quando uma mulher vai ser operada para tratar os miomas, mas está com uma anemia muito forte, o que exige que o sangramento seja controlado antes do procedimento”, diz o ginecologista do Einstein.
Se os remédios não estiverem funcionando, a radiofrequência pode ser utilizada para levar a um aquecimento monitorado dos miomas que desencadeia a sua destruição. Outra opção é a embolização da artéria uterina, um método minimamente invasivo, que provoca o bloqueio das artérias que nutrem o nódulo, provocando a sua morte.
Em alguns casos, a cirurgia é necessária. Ela pode ser realizada através da vagina ou com a ajuda de laparoscopia e cirurgia robótica, usadas no abdômen ou os dois juntos, dependendo do caso. “Ela pode ter como objetivo apenas a retirada dos miomas ou do útero inteiro. Nesse último caso, por ser mais radical, é preciso avaliar a idade da paciente, se já teve filhos e se está perto da menopausa, entre outros fatores”, explica o professor de ginecologia da USP.