Estudantes da UFRN desenvolvem aplicativo para diagnóstico de perda óssea


Projeto é resultado de parceria entre os cursos de odontologia e engenharia da UFRN

Larissa Araújo – Agecom/UFRN

Fotos: Júnior Teixeira – Agecom/UFRN

A radiografia é um exame que produz imagens de estruturas internas do corpo, sendo um meio essencial para a avaliação da destruição óssea alveolar. Isso determina um prognóstico ao paciente e dá recursos médicos para a formulação de um plano de tratamento. A partir dele, é possível analisar o resultado de variadas terapias relacionadas à saúde bucal. Pensando nisso, alunos da UFRN desenvolveram um aplicativo que auxilia no diagnóstico por meio da detecção e mensuração de perda óssea radiográfica periodontal. O projeto foi um dos vencedores do Prêmio Destaque na Iniciação Científica e Tecnológica (eCICT). Também foi indicado ao prêmio destaque do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Professora e alunas usando o aplicativo (Foto: Júnior Teixeira – Agecom/UFRN)

Resultado do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Luanny Avelino, do Curso de Odontologia da UFRN, a proposta de um aplicativo que auxilia no diagnóstico da perda óssea periodontal foi desenvolvida com apoio de Agnes Andrade (Odontologia/UFRN), Jordão Cassiano, do Curso de Engenharia Elétrica, e Matheus Targino, de Engenharia da Computação.  Intitulado Desenvolvimento de um aplicativo para o auxílio no diagnóstico de perda óssea radiográfica periodontal via aprendizagem profunda, a pesquisa foi orientada por Ana Rafaela Luz de Aquino Martins, professora do Departamento de Odontologia (DOD/UFRN), vinculado ao Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFRN).

Fenômeno decorrente da doença periodontal, a perda óssea é uma condição inflamatória crônica influenciada por diversos fatores e associada ao acúmulo de biofilme nos dentes. Essa perda é caracterizada pela diminuição progressiva da estrutura óssea que sustenta os dentes, conhecida como osso alveolar. A detecção do problema pode ser realizada a partir de exames radiográficos periapicais e interproximais, observando alterações na distância entre a Junção Cemento-Esmalte (JCE) e a crista óssea alveolar (COA). A condição está presente em dentes cuja distância se encontra maior que 2mm.

Luanny Avelino, Ana Rafaela e Agnes Andrade mensurando a perda óssea de um paciente manualmente (foto: Júnior Teixeira – Agecom/UFRN)

Essa doença tem implicações na vida do paciente, pois além de comprometer a estabilidade dos dentes, podendo levar à perda, também afeta a estética do sorriso e a função mastigatória. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para preservar a saúde bucal e geral do paciente, visando a manutenção da integridade dos tecidos periodontais e a prevenção de complicações futuras.

Pensando nisso, o aplicativo foi desenvolvido para que o cirurgião-dentista possa acessar e fazer o upload da imagem radiográfica. O app gera o resultado da avaliação dos dentes, informando se há perda óssea e qual o valor exato do dano. O projeto se destaca, pois não apenas detecta, mas mensura o valor exato da perda óssea. Isso aumenta a eficiência e a precisão do diagnóstico e reduz o tempo clínico dos profissionais, já que oferece um resultado em milissegundos, tempo significativamente inferior ao que é gasto fazendo a medição manualmente.

Segundo Luanny Avelino, os dentistas fazem a medição manual com uma régua ou algo digital semelhante. “Medimos a distância dos pontos já determinados que é a crista óssea e a Junção Cemento-Esmalte. Para isso, é preciso identificar esses pontos nos dentes que temos interesse e fazer a medição. Por vezes, isso é difícil devido a diversos fatores, como qualidade da imagem. E com a inteligência artificial, o nosso modelo consegue identificar com precisão e rapidez”, comenta.

A aplicação

No Departamento de Odontologia da UFRN, alunos e professores não fazem uso de aplicativo, sendo portanto uma oportunidade de acesso a essa ferramenta. O grupo já registrou o software no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) junto à Agência de Inovação (Agir/UFRN). Nos próximos meses serão realizadas algumas adaptações para tornar esse aplicativo pronto para uso comercial com a orientação e o apoio da Agência de Inovação (Agir). Será iniciada a exploração econômica, visando permitir o acesso comercial aos profissionais de institutos de radiologia e clínicas particulares. Outro objetivo é liberar o acesso gratuito no próprio Departamento de Odontologia da UFRN.

Jordão Cassiano trabalhando no aplicativo (foto: Júnior Teixeira – Agecom/UFRN)

Luanny Avelino afirma se sentir honrada e grata com o prêmio. Ela diz que a pesquisa surgiu do desejo de unir a área de odontologia com a área da Engenharia. “Quando pensamos em desenvolver o aplicativo, jamais imaginamos que chegaríamos tão longe. Poder ver essa pesquisa ganhando um prêmio como esse foi uma surpresa e um sentimento de que nosso trabalho valeu super a pena. Além disso, fico feliz e entusiasmada que nossa pesquisa não parou com o fim da minha graduação, ainda temos muitos frutos a colher”, comenta a discente.

Ana Rafaela Martins relata que orientar o trabalho foi bastante desafiador, mas enriquecedor. “Ele foge um pouco do que estamos habituados a trabalhar dentro da nossa área de pesquisa e atuação, mas sabíamos que tinha um potencial enorme. Fazer parceria com outras áreas dentro da própria Universidade foi essencial. Então, saber que conseguimos vencer os obstáculos e ver a pesquisa sendo destaque de Iniciação Científica é extremamente recompensador”, conclui.

Já para Agnes Andrade, estudante de odontologia, e coautora do projeto, participar do desenvolvimento do produto foi muito importante para o crescimento enquanto acadêmica. “Destaco o constante reconhecimento do trabalho interdisciplinar na área da odontologia como fundamental para o avanço da ciência e desenvolvimento de novas tecnologias. Apropriar-se de técnicas e conhecimentos da parte computacional foi desafiador, mas de grande contribuição para nós como pesquisadores da área da saúde”, conta.

Matheus Targino trabalhando no aplicativo (Fotos: Júnior Teixeira – Agecom/UFRN)

Ainda de acordo com a coautora, é gratificante ver este aplicativo, resultado do esforço de alunos de graduação, pós-graduação e docentes da UFRN, sendo reconhecido por pesquisadores renomados na área da saúde. “Temos uma satisfação enorme em ter recebido a carta de registro do programa pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Esperamos, em breve, poder contribuir com a rotina dos cirurgiões-dentistas para auxiliar e facilitar o diagnóstico da doença periodontal”, comenta Agnes.

Jordão Cassiano, aluno de Engenharia mecânica e coautor do trabalho, explica que teve uma experiência bastante positiva durante o processo de desenvolvimento do app. “A minha jornada neste projeto teve início com um convite muito especial feito pela minha noiva, agora minha esposa, Luanny. Ela me apresentou a essa ideia fantástica que unia tecnologia e saúde, e logo de cara, eu percebi que seria algo que eu adoraria fazer parte”, conta.

“Sob a orientação da professora Ana Rafaela, juntamos forças com os outros membros e formamos uma equipe com bastante sinergia. Nesse processo aprendi muito sobre odontologia. Essa troca de conhecimentos foi fundamental para o sucesso do projeto, permitindo que cada um de nós ampliasse sua visão e compreensão sobre áreas que, inicialmente, eram fora de nossa especialização”, relembra Jordão.

Matheus Targino, aluno de Engenharia da Computação, comenta como foi participar do projeto. “Fui convidado pelos meus amigos Jordão e Luanny para contribuir com nossos conhecimentos em IA, desenvolvimento de software e visão computacional, enquanto Luanny trouxe sua expertise em Odontologia. Juntos, criamos uma ferramenta com um potencial significativo para simplificar o trabalho diário dos profissionais da odontologia, explica. Estou muito feliz com o resultado alcançado e animado com as perspectivas de crescimento do projeto”, relata o estudante.

UFRN BR

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