Estudo da Unifesp mostra, no entanto, que vantagens foram observadas apenas em quem cumpre a recomendação semanal de 150 minutos de atividade moderada ou 75 de vigorosa
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Praticar atividade física somente no fim de semana tem benefícios parecidos na redução da mortalidade a longo prazo do que se exercitar regularmente ao longo dos demais dias – mas desde que o volume semanal de atividade física seja semelhante.
Isso é o que revela uma pesquisa inédita da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que apontou não haver diferença significativa nas taxas de mortes entre esses dois grupos. Segundo os autores, o resultado desmistifica a ideia de que o exercício deve ser feito todos os dias para ser benéfico e pode incentivar pessoas a adotar hábitos saudáveis de acordo com suas possibilidades.
Já se sabe que a atividade física contribui para a redução do risco cardiovascular e mortalidade em geral, mas há poucos estudos sobre a relação entre a frequência semanal praticada e os desfechos a longo prazo.
Para suprir essa lacuna, os autores analisaram inquéritos sobre a saúde de mais de 350 mil adultos nos Estados Unidos entre 1997 e 2013, que foram cruzados com dados de mortalidade. Os participantes foram divididos em dois grupos conforme a rotina de exercícios: os ativos, considerando aqueles que cumpriam a recomendação de 150 minutos semanais de atividade moderada ou 75 minutos de vigorosa; e os inativos, que não atingiam esse volume.
Os ativos, por sua vez, foram subdivididos entre os chamados “guerreiros de fim de semana”, quando faziam atividade física somente em um ou dois dias, e os regularmente ativos, aqueles que se exercitavam cinco vezes ou mais por semana.
Ao fim do período avaliado, os resultados mostraram que não houve diferença significativa na mortalidade cardiovascular e por qualquer causa entre os dois grupos de ativos, considerando o mesmo volume semanal.
“Observamos que tanto faz se a atividade física é espalhada ou concentrada, o que importa mais é o volume total de atividade moderada ou vigorosa realizada na semana,” avalia Leandro Rezende, um dos autores do estudo, coordenador e orientador permanente do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. “Para o mesmo volume de atividade física semanal, os dois grupos alcançam os mesmos benefícios, o que muda é a frequência da atividade, e isso pode ajudar as pessoas a aderirem à atividade física.”
Isso pode ser bom para quem não tem muito tempo para fazer exercícios. “Mas, para atingir o mínimo recomendado, o treino em poucos dias deve ser um pouco mais puxado”, orienta o profissional de educação física Everton Crivoi do Carmo, doutor em Ciências do Esporte e responsável pela preparação física no Espaço Einstein Esporte e Reabilitação. Para se ter uma ideia, isso equivaleria a duas caminhadas de pouco mais de uma hora em ritmo moderado, por exemplo.
Segundo Crivoi do Carmo, a vantagem de se exercitar mais vezes na semana é conseguir atingir as recomendações de forma mais tranquila ou superar a meta, o que seria até melhor. “Tentar fazer [exercícios] o maior número de dias possível e se manter ativo ao longo do dia ainda é a melhor opção”, recomenda. Masvale o alerta: “Pessoas com doenças crônicas preexistentes podem precisar de maior controle do volume e intensidade do treino”, diz o especialista.