Pesquisa revela que combinação de maus hábitos aumentou durante período de isolamento
Campanha de conscientização e combate ao câncer de cabeça e pescoço, o Julho Verde promove um alerta importante quanto ao aumento do consumo de álcool e cigarro em tempos de pandemia de COVID-19 e isolamento social. A combinação de bebida e tabagismo é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento desse tipo de câncer, como mostra o estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ConVid – Pesquisa de Comportamentos da Fundação Oswaldo Cruz. A pesquisa constatou o impacto da Covid-19 na vida da população, revelando que 34,3% dos entrevistados que se declararam fumantes elevaram o consumo diário de cigarros durante a pandemia — 22,8% aumentaram em dez, 6,4% em até cinco e 5,1% em 20 ou mais cigarros.
“Quando falamos do câncer de cabeça e pescoço, na verdade, nos referimos a um conjunto de tumores malignos que podem acometer diferentes localizações: a cavidade oral (boca), a faringe (garganta), a laringe, a cavidade nasal (nariz), os seios paranasais (seios da face) e as glândulas salivares. Apesar de serem em geral agressivos e acometerem estruturas anatômicas próximas umas das outras, apresentam peculiaridades entre si, o que pode ser determinante no momento de se traçar a melhor estratégia terapêutica. No atual contexto de pandemia do novo coronavírus e de isolamento social, causa preocupação o aumento do tabagismo e da ingestão de álcool, principais fatores de risco para a doença”, explica o médico oncologista do Grupo Oncoclínicas RJ dr. Pedro De Marchi.
Recentemente, a OMS recomendou que governos restrinjam a venda de bebidas alcoólicas em contexto de pandemia, quarentena e isolamento social, uma vez que o álcool reduz a imunidade e sua ingestão excessiva pode ainda prejudicar a saúde física e mental. “Infecção por HPV em virtude de sexo oral desprotegido, má higiene oral, alimentação rica em produtos defumados e industrializados também são fatores de risco para o câncer de cabeça e pescoço. Não fumar e não beber, além de sexo protegido e a vacina pra HPV, são formas eficazes de prevenção. A campanha Julho Verde visa informar e alertar a população sobre os fatores de risco e os sinais e sintomas precoces da doença. A impressão é que esse tipo de conhecimento começa a ser difundido, o que é essencial para uma possível redução de incidência e diagnóstico em estádios mais iniciais”, avalia o oncologista.
Homens são mais atingidos
Alguns dados do câncer de cabeça e pescoço em homens e mulheres no país, de acordo com estimativas de novos casos do Instituto Nacional do Câncer (Inca), indicam que, em 2020, são esperadas as seguintes incidências: cavidade oral (boca) 15.190, sendo 11.180 homens e 4.010 mulheres ; esôfago, 11.390, sendo 8.690 homens e 2.700 mulheres; laringe, 7.650, sendo 6.470 em homens e 1.180 em mulheres.
“O câncer da cavidade oral (boca) é o quinto mais frequente entre homens no país, correspondendo a 5% de todos os cânceres que os acometem. Os principais cânceres de cabeça e pescoço são mais frequentes em homens e ocorrem faixa dos 60 anos. Nas mulheres, a faixa etária é a mesma, mas a proporção de câncer de orofaringe (garganta) é maior, assim como a associação com infecção por HPV”, diz dr. Pedro De Marchi.
Sintomas persistentes acendem alerta
O médico observa que alguns sinais da doença podem não ser percebidos com tanta atenção ou, ainda, podem também ser confundidos com outras intercorrências. Por isso, ele ressalta que disseminar informações sobre os sintomas do câncer de cabeça e pescoço é uma maneira eficaz para ajudar na detecção precoce.
“Quando analisamos os sintomas, é fundamental observar a duração. Afta, lesão avermelhada ou esbranquiçada na boca, aparecimento de ínguas no pescoço, dor de garganta, dificuldade para engolir ou rouquidão que persistam por mais de três semanas e não melhoram necessitam de avaliação médica especializada. Esses tumores de cabeça e pescoço, em geral, são muito agressivos, crescem rapidamente e de forma precoce comprometem a saúde do paciente, pois prejudicam a alimentação, a respiração e a parte emocional. Dessa forma, difundir o conhecimento desses sinais e sintomas pode ajudar no diagnóstico precoce e salvar vidas, considerando que quanto mais inicial o tumor é identificado maiores as chances de cura da doença”, salienta o médico do Grupo Oncoclínicas RJ.
Tratamento multidisciplinar e chances de cura
O paciente com câncer de cabeça e pescoço requer um tratamento multidisciplinar para elevar as chances de cura. “Em geral, vários profissionais são necessários para o tratamento e a reabilitação desses pacientes como oncologista clínico, cirurgião, radio-oncologista, paliativista, dentista, nutricionista, fonoaudióloga, enfermeira, fisioterapeuta, psicóloga e assistente social. A maioria dos tumores é diagnosticada em estádio locorregional avançado, com tumores volumosos, porém ainda sem terem desenvolvido metástases, permitindo um tratamento com intenção curativa para boa parte desses pacientes. No entanto, nesse cenário, não é incomum o paciente precisar de diferentes modalidades terapêuticas, como cirurgia, radioterapia e quimioterapia”, esclarece dr. Pedro De Marchi.
“Como mensagem final, ressalto: tabagismo, consumo de bebida alcoólica em excesso e infecção por HPV são os principais fatores de risco. É crucial ter conhecimento dos sinais e sintomas, procurar atendimento precocemente e, quando diagnosticado, de preferência, ser tratado dentro de uma instituição bem estruturada, que disponha de uma linha de cuidado multidisciplinar. Os profissionais precisam estar integrados para garantir uma assistência de qualidade e aumentar as chances de cura desses pacientes”, explica o oncologista.