Lais desenvolve ventilador mecânico de baixo custo para uso em serviços de saúde


O Brasil já contabiliza mais de 2,7 milhões de casos de pessoas infectadas com a covid-19. Destes, quase de 95 mil foram a óbito. Ainda sem uma vacina, o tratamento adequado é fundamental para manter a vida dos pacientes. E um dos instrumentos principais, nos casos mais graves, é o ventilador mecânico, que tem com função essencial, auxiliar no fluxo respiratório dos pacientes. No entanto, com a pandemia e a necessidade mundial, o equipamento se tornou um produto raro no mercado internacional.

Diante da necessidade, pesquisadores do Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LAIS/UFRN) criaram um novo modelo de ventilador mecânico, de fácil manutenção e um custo até 80 vezes mais baixo do que o praticado no mercado internacional. O respirador do LAIS tem características próprias, como atender a dois pacientes simultaneamente. Ao mesmo tempo, seu custo está estimado em 3 mil reais, enquanto o valor de um ventilador no mercado atual pode chegar a 240 mil reais, em virtude da alta demanda dos serviços de saúde pelo equipamento.

De acordo com o professor Danilo Nagem, do Departamento de Engenharia Biomédica da UFRN, o projeto do LAIS foi desenvolvido para atender  normas vigentes, de características eletro-mecânicas, de fácil manutenção e controle de preço muito competitivo, além de poder apresentar segurança ao paciente. “Esse ventilador foi projetado para trabalhar principalmente com o modo de volume controlado, onde o paciente recebe um volume de ar indicado pelo profissional de saúde e o pico de pressão que vai variar de acordo com o grau de elasticidade do pulmão e resistência das vias aéreas, mas sempre nos limites de segurança”.

Seu sistema robusto reforça seu uso em centros e unidades de saúde, pois apresenta pouca manutenção, baixo custo de operação e permite atender, de forma inédita, dois pacientes simultâneos com características diferentes. Dessa forma o equipamento pode e deve ser utilizado como um sistema de apoio ao tratamento da covid-19, mas principalmente para o suporte a esses centros que não possuem esse tipo de equipamento.

“Além da questão dos custos reduzidos, é importante destacar que este protótipo foi pensado e desenvolvimento usando ferramentas já regulamentadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ou seja, parte de tecnologia já existente e aprovada. Do jeito que está hoje, já poderemos iniciar os testes com pequeno animais, como cães e porcos, que é a chamada fase pré-clínica. Mas nossa expectativa é que em três ou quatro meses já possamos disponibilizar o ventilador para as primeiras unidades de saúde”, disse o professor Ângelo Roncalli, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN.

Ele explicou ainda que para funcionar, o equipamento usa um carregador de celular. “Isso é importante, pois não será necessário mexer na rede elétrica das unidades onde o equipamento for utilizado. Até mesmo em um acendedor de carro o produto pode ser ligado, o que o qualifica para uso em ambulâncias, por exemplo”, afirmou.

Uma primeira versão do equipamento já está em funcionamento e finalizando os ajustes requeridos no projeto, para atender as exigências da Anvisa. Pequenos ajustes para inclusão de alguns poucos alarmes exigidos pela agência em questão, bem como os testes clínicos para sua validação, estarão no foco das próximas etapas já previstas no projeto.

Pesquisador faz demonstração do respirador ao diretor do Lais, Ricardo Valentim

Para o professor Ricardo Valentim, coordenador do LAIS e um dos desenvolvedores do projeto, o caráter de inovação do ventilador mecânico é a possibilidade de aplicá-lo em unidades que não possuem leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). “Quando a equipe de trabalho começou a pensar neste ventilador mecânico, nossa ideia era que ele contemplasse unidades de urgência e emergência, como as UPAS (unidades de pronto de atendimento, presentes em diversas cidades do país). Este protótipo custou cerca de 3 mil reais, porém, se produzido em larga escala, esse valor cai pela metade, o que o torna acessível até para unidades de saúde menores. Nosso objetivo não é concorrer com equipamentos com custo maior, mas sim oferecer aos serviços de saúde uma opção. Se tivéssemos algo assim nas UPAs no início da pandemia, talvez os números de óbitos pudessem ser menores”, disse.

Equipamento também poderá ter uso veterinário

Segundo o professor William Fernandes, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFRN, já está em desenvolvimento também versões menores do ventilador. De acordo com ele, a ideia é que o produto possa ser portátil, facilitando tanto o manuseio quanto o deslocamento de unidades. Ainda de acordo com ele, este diferencial vai permitir que até mesmo clínicas veterinárias possam contar com equipamento.

“A própria questão da testagem é feita com pequenos animais, e como será um produto de custo baixíssimo, essas pequenas clínicas também poderão contar com o equipamento quando ele estiver devidamente validado, com todas as funcionalidades pensadas para o uso em humanos. Esta possibilidade é ter um recurso quase portátil traz versatilidade para o produto”, finalizou.

Formaram a equipe os professores Evans Ferreira, William Fernandes e Ângelo Roncalli, do Departamento de Engenharia Mecânica; Custódio Guerra, Danilo Nagem, Karilany Coutinho e Ricardo Valentim, do LAIS e do Departamento de Engenharia Biomédica, além do servidor João Maria Frazão, do Núcleo de Tecnologia Industrial da UFRN.

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