Pesquisadores descobrem novo subgênero de coronavírus entre morcegos brasileiros; entenda


Cientistas brasileiros e alemães descobriram um novo subgênero de coronavírus entre morcegos que habitam diferentes cavernas na região Nordeste, estudados entre maio de 2019 e janeiro de 2023. Em estudo publicado na revista científica Virus Evolution, os pesquisadores descrevem a caracterização dos novos ambecovírus (American betacoronavirus) e reforçam a importância de compreender a diversidade viral entre animais silvestres para prevenir futuros surtos de zoonoses, doenças transmitidas de animais para humanos.

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“Os morcegos, em particular, são reconhecidos como reservatórios naturais de diversos patógenos virais zoonóticos de alto impacto, incluindo os coronavírus responsáveis pela SARS, o vírus da raiva, diversos paramixovírus e os vírus Marburg, Ebola, Nipah e Hendra. No entanto, grande parte dos vírus presentes em morcegos ainda permanece inexplorada, especialmente em regiões altamente biodiversas dos Neotrópicos, como os ecossistemas brasileiros”, escrevem os autores.

O coronavírus é uma família de vírus que infectam humanos e animais dividida em 5 gêneros e 27 subgêneros. O SARS-CoV-2, por exemplo, que causa a Covid-19, pertence ao gênero betacoronavírus, que causa doenças respiratórias ou gastrointestinais em uma variedade de organismos, quase sempre mamíferos, e ao subgênero sarbecovírus. Ele foi o sétimo coronavírus identificado que infecta humanos. Outro betacoronavírus famoso, o MERS-CoV, causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS).

No novo estudo, pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Bernhard Nocht Institute for Tropical Medicine, da Alemanha, analisaram o genoma de amostras de coronavírus detectadas em 19 morcegos no Brasil e identificaram um tipo do vírus que não se enquadrava em nenhum dos subgêneros conhecidos até então.

Pesquisadores descobrem novo subgênero de coronavírus entre morcegos brasileiros. — Foto: Fiocruz Pernambuco

A partir dessa caracterização, eles criaram o novo subgênero de coronavírus chamado de ambecovírus (American betacoronavirus), pertencente também ao gênero sarbecovírus, assim como o causador da Covid-19 da MERS. Ainda assim, os responsáveis pelo trabalho explicam que os achados não são motivo de preocupação.

“A descoberta não é motivo para pânico. Ela mostra que a diversidade viral em hospedeiros da região neotropical do planeta, desde o México até o norte da Argentina, permanece em grande parte desconhecida. Isso aponta para a necessidade de uma abordagem sistemática para exploração e análise do viroma dos morcegos”, diz Gabriel Wallau, da Fiocruz Pernambuco, que liderou o estudo, em nota.

Ele lembra, por exemplo, que nem todos os coronavírus encontrados em animais conseguem infectar humanos. Segundo o cientista, o próximo passo agora é justamente analisar esse potencial de transmissão com testes in vitro (em laboratório) para saber qual o grau de risco desse novo conjunto de coronavírus.

Para Wallau, a pandemia da Covid-19 “reforçou a necessidade” de estudos desse tipo. Um trabalho semelhante, por exemplo, conduzido com morcegos da Rússia e publicado na revista científica PLoS Pathogens, em 2022, identificou um novo coronavírus do mesmo subgênero do SARS-CoV-2.

O patógeno, chamado de Khosta-2, tem proteínas que podem levá-lo a infectar humanos, mas essas informações servem de alerta para que os pesquisadores monitorarem a sua atividade, e não significam que o vírus de fato começará a causar doença entre pessoas.

Fonte: Jornal O Globo.

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