2025, o ano em que a saúde deixou de ser promessa e virou escolha


O ano de 2025 termina como um divisor de águas para a saúde no Brasil e no mundo. Não foi um ano de grandes anúncios retóricos, mas de decisões. Decisões difíceis, algumas tardias, outras corajosas. Em um mundo marcado por instabilidade geopolítica, emergência climática, envelhecimento populacional e avanço tecnológico acelerado, a saúde deixou definitivamente de ser um tema setorial. Tornou-se um projeto de país, ou a ausência dele.

Do ponto de vista científico, 2025 consolidou aquilo que a pandemia havia revelado: a medicina do futuro é baseada em dados, integração e evidência. A inteligência artificial saiu do campo experimental e passou a impactar o cuidado real, da radiologia à terapia intensiva, da predição de risco cardiovascular ao fluxo de emergências. Hospitais que aprenderam a usar dados salvaram mais vidas. Os que resistiram à mudança ficaram mais caros, mais lentos e, infelizmente, menos seguros.

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Mas 2025 também expôs uma verdade incômoda: tecnologia sem governança não salva. Pelo contrário, amplia desigualdades. O grande debate do ano não foi se a inteligência artificial funciona, ela funciona, mas quem a controla, com quais critérios e para benefício de quem. Saúde baseada em evidências voltou ao centro do debate, não como jargão acadêmico, mas como instrumento de justiça social e sustentabilidade do sistema.

No Brasil, avançamos e tropeçamos. Houve progresso na discussão sobre avaliação de tecnologias em saúde, incorporação responsável de medicamentos de alto custo e necessidade de alinhar ciência, regulação e financiamento. Ao mesmo tempo, a judicialização excessiva seguiu drenando recursos do sistema, muitas vezes sem benefício comprovado ao paciente e com alto custo coletivo. Em 2025, ficou claro: garantir acesso não é dizer “sim” a tudo, mas dizer “sim” ao que funciona.

A crise da formação médica também se tornou impossível de ignorar. O país encerra o ano com mais escolas médicas do que capacidade real de formar bons médicos. Casos evitáveis, erros básicos e falhas de supervisão expuseram o preço da expansão sem qualidade. O debate sobre avaliação nacional, residência médica e responsabilidade institucional deixou de ser corporativo e passou a ser um tema de segurança do paciente. Tarde, talvez. Necessário, certamente.

Na saúde pública, 2025 foi um ano de contrastes. Avançamos em alguns indicadores, mas seguimos falhando em políticas estruturantes para doenças crônicas, saúde mental e envelhecimento. O Brasil envelhece rápido, adoece cedo e trata tarde. Essa equação é insustentável. O futuro da saúde não está apenas em novos medicamentos, mas em prevenção, organização do cuidado e integração entre níveis assistenciais.

Há, contudo, um sinal concreto de esperança ao final de 2025. A aprovação no Senado no dia 16 de dezembro de 2025, de um hospital público inteligente, estruturado com financiamento do New Development Bank, em articulação entre os governos federal e estadual de São Paulo, representa mais do que uma obra. Inaugura um novo modelo de cuidado. Um hospital pensado para integrar dados, ensino, pesquisa, inovação e assistência em larga escala, com foco em eficiência, sustentabilidade e segurança do paciente, que nasce na Universidade de São Paulo. Não se trata apenas de ampliar leitos, mas de redefinir como o sistema público pode funcionar, mais previsível, mais transparente e mais centrado em resultados. Se bem executado, esse projeto marca o início de uma transformação silenciosa, porém profunda, na forma como o Brasil organiza sua saúde, com menos improviso, mais inteligência e maior compromisso com a equidade.

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