Estudo rastreia transmissão da linhagem P.1 e identifica potencial nova variante no RN


Marcos Neves Jr – Agecom/UFRN 

Um estudo colaborativo rastreou a transmissão interestadual da linhagem P.1 do SARS-CoV-2, surgida no Amazonas, a diversificação da P.2 e uma possível nova variante brasileira do vírus, detectada no Rio Grande do Norte. Os resultados foram depositados em bases de dados públicos internacionais e submetidos a periódicos científicos na quinta-feira, 11 de março, sendo assinados por 22 pesquisadores.

Coordenado pelo Laboratório de Bioinformática (LABINFO) do Laboratório Nacional de Computação Científica (Petrópolis-RJ), um instituto do Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovação (MCTI), o estudo contou com cientistas das universidades estaduais de Santa Cruz-BA (UESC) e do Rio de Janeiro (UERJ) e as federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande do Norte (UFRN), representada pelo Laboratório de Biologia Molecular e Genômica (LBMG-DBG-UFRN) e pelo Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN)

Para compreender a existência de variantes genéticas do novo coronavírus, foram sequenciados 185 genomas provenientes da colaboração de pesquisadores de cinco estados (AM, BA, PB, RJ e RN), representando 39 municípios. As amostras coletadas foram de pessoas com resultado positivo para covid-19 no período de 1° de dezembro de 2020 a 15 de fevereiro de 2021. Com faixa etária heterogênea, os participantes variaram de 11 a 90 anos de idade, sendo 92 homens e 93 mulheres.

De acordo com nota da pesquisadora do LABINFO, Ana Tereza Vasconcelos, os resultados permitiram a inferência das datas de origem de P.1 (linhagem de Manaus) e identificar que a variante do Rio de Janeiro, P.2, descrita no final de 2020, apresenta diversificação à medida que se espalha pelo país. Além disso, foi possível reconstruir as rotas de transmissão interestaduais dessas duas linhagens.

Chama a atenção a alta prevalência da variante de Manaus no Rio Grande do Norte. Das 45 amostras de Natal, cerca de 35% representam a linhagem P1. É a maior ocorrência fora do estado do Amazonas entre todos os sequenciamentos feitos neste estudo, informa a professora do Departamento de Biologia Celular e Genética (DBG/UFRN), Lucymara Fassarella Agnez Lima.

Ao lado de Kátia Castanho Scortecci, também do DBG, e Selma Maria Jerônimo, do Instituto de Medicina Tropical (IMT/UFRN), a pesquisadora participou do estudo Rede Vírus. Lucymara ressalta a importância da vigilância genômica, instrumento guia da pesquisa, no contexto da pandemia.

“No caso do vírus, como ele está sendo multiplicado muito rapidamente e transmitido para um grande número de pessoas, com uma taxa elevada, isso permitiu a ocorrência de mutações. Ao longo do tempo, leva a divergência de linhagens, gerando algumas mais adaptadas ao hospedeiro humano. Essa vigilância genômica nos permite acompanhar a evolução viral e detectar, até precocemente, o surgimento de novas linhagens”, explica a professora.

Uma das possíveis novas linhagens do vírus apontadas pelo estudo foi detectada justamente no Rio Grande do Norte. Na avaliação de Lucymara Fassarella, os agentes públicos tomadores de decisão, bem como a comunidade científica, têm de estar atentos aos resultados oferecidos pela vigilância genômica e utilizar esses dados para medidas mais precisas.

“Isso serve para que as autoridades fiquem alertas, assim como os próprios cientistas que estão estudando novas vacinas e medicamentos, podendo antever eventos e com isso direcionar os trabalhos de uma forma mais efetiva e eficaz. Esse monitoramento genômico precisa ser feito porque o vírus está se multiplicando em uma taxa muito alta no Brasil. A falta de isolamento e a transmissibilidade elevada, principalmente da linhagem P1, trazem a preocupação em monitorar esses eventos”, afirma a pesquisadora.

UFRN

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