Fique de olho na vitamina B12


Foco de atenção nos vegetarianos, essa vitamina também é deficiente em 50% dos brasileiros que consomem carnes

Tenho percebido um “modismo” em relação às vitaminas. Já houve a época em que a vitamina C era a grande queridinha e foi uma febre o consumo de suplementos, especialmente as efervescentes, de cor laranja, para curar gripes e resfriados. Hoje, sabe-se que a vitamina C ajuda o sistema de defesa do corpo, mas não há nenhuma evidência científica que esse micronutriente seja o responsável pela cura quando a doença já está instalada. Além disso, a dosagem presente nos suplementos é muito maior do que as necessidades diárias, cerca 500 mg ou 1.000 mg, sendo que as mulheres precisam de 75 mg e os homens, 90 mg, dose facilmente alcançada com o consumo diário de uma unidade de laranja ou limão. O excesso de vitamina C é eliminado pela urina, e a superdosagem a longo prazo pode facilitar a formação de pedra nos rins, portanto, recomendo não gastar seu dinheiro para ser excretado no xixi.

A vitamina D também foi e ainda é motivo de preocupação nos consultórios. Como já escrevi nesse espaço, observa-se uma deficiência nos níveis de vitamina D na população mundial, em razão da ingestão deficiente de alimentos fontes dessa substância e da pouca exposição solar.

Outra vitamina que merece atenção é a vitamina B12 ou cianocobalamina. É uma vitamina hidrossolúvel sintetizada exclusivamente por microrganismos, e a fonte natural na dieta humana restringe-se a alimentos de origem animal, especialmente leite, carne e ovos. Em países industrializados, estudos epidemiológicos mostraram uma prevalência da deficiência de vitamina B12 na população geral próxima a 20%, notando-se também que a deficiência é subdiagnosticada em muitos casos, por mais que seja uma questão bastante comum. Dados do Tufts University Framingham Offspring Study sugerem que 40% das pessoas com idades entre 26 e 83 anos apresentam níveis de vitamina B12 na faixa normal baixa; 16% estão “perto da deficiência”, e 9% apresentam uma deficiência clara. Diante disso, é apontada como uma epidemia silenciosa.

A vitamina B12 trabalha com o folato (vitamina B9) na síntese de DNA e das células vermelhas do sangue. Também está envolvida na produção da bainha de mielina em torno dos nervos e na condução de impulsos nervosos. Pense no cérebro e no sistema nervoso como um grande emaranhado de fios. A mielina é o isolamento que protege os fios e os ajuda a conduzir as mensagens. Os sintomas da sua deficiência são: anemia perniciosa, fadiga, fraqueza, desequilíbrio, confusão mental, irritabilidade e tristeza, problemas com a memória, complicações para enxergar, falta de ar e de apetite e pode estar associado a doenças mentais, como demência.

Foco de atenção nos indivíduos vegetarianos, essa vitamina também apresenta-se deficiente em 40% da população latino-americana e 50% dos brasileiros que consomem carnes. Isso porque a absorção de vitamina B12 depende mais do seu metabolismo do que da ingestão, e sua absorção depende da acidez gástrica e do fator intrínseco, uma proteína produzida pelo estômago.

Indivíduos com disbiose intestinal ou doenças inflamatórias intestinais, consumo de álcool, envelhecimento (reduzindo a acidez do estômago, importante para remover a B12 do alimento), o uso exacerbado de substâncias antiácidas ou de medicamentos que “protegem o estômago” a longo prazo, podem favorecer a má absorção. Algumas doenças autoimunes podem destruir as células do estômago que produzem esse fator intrínseco reduzindo também o processo de absorção.

Pessoas que fizeram cirurgia bariátrica tendem a ter deficiência em razão da redução do consumo de alimentos devido a intolerância de suas principais fontes (leite e carne) e pela falta do fator intrínseco. Diabéticos que fazem uso de metformina também devem ter atenção, a medicação pode diminuir os níveis de vitamina B12 em 30% dos pacientes.

JORNAL O GLOBO

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