Mudança de hábitos noturnos, terapia comportamental e fisioterapia estão entre os tratamentos indicados
Alexandre Raith, da Agência Einstein
A criança que faz xixi na cama pelo menos duas vezes por semana pode estar passando por transtornos tanto físicos quanto comportamentais. A enurese, que se caracteriza pela perda involuntária da urina durante o sono, pode estar relacionada desde à alguma disfunção do trato urinário e problema no sistema endócrino e nos rins até a alterações de autoestima.
Diante das diversas manifestações causadoras, como os pais identificam que se trata de enurese e não de uma adaptação do período de desfralde?
“A enurese é definida como uma micção completa, involuntária e periódica, a qual ocorre durante o sono fisiológico, em crianças em idade a partir dos cinco anos pelo menos duas vezes por semana, na ausência de alterações adquiridas ou congênitas”, explica Nilzete Liberato Bresolin, presidente do Departamento Científico de Nefrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Nilzete afirma que os pais precisam entender que a enurese é involuntária. Por isso, sugere motivar e elogiar a criança nas noites secas, e nunca adotar atitudes punitivas. Além disso, não devem postergar o início de um tratamento adequado, considerando as consequências psicológicas que acarreta, além do estresse familiar.
A enurese noturna é uma condição clínica que pode se manifestar de forma isolada (monossintomática), sem qualquer outro sintoma diurno. Neste caso, além da hereditariedade, pode ser causada por anormalidades na produção de hormônio antidiurético no período noturno, alterações do despertar do sono e instabilidade detrusora.
“Outra condição é a enurese não monossintomática, quando acompanhada de sintomas diurnos como urgência, incontinência e até mesmo infecções do trato urinário”, esclarece Rejane de Paula Bernardes, membra do Departamento Científico de Nefrologia da SBP.
Entre os tratamentos está a uroterapia ou terapia comportamental, cujo objetivo é o de “informar, desmistificar, desculpabilizar e orientar sobre modificação de hábitos miccionais”, conta Rejane. A psicoterapia pode ser necessária quando a enurese está associada a transtornos comportamentais ou alteração da autoestima. Além disso, há a possibilidade de uso de medicação e de sessões de fisioterapia pélvica. Já o retorno ao uso de fralda não é recomendado.
Rejane indica aos pais que têm um filho com enurese noturna uma série de práticas preventivas:
- Explicar sobre função normal de trato urinário;
- Estimular a micção regular cada 3 a 4horas;
- Evitar manobras de contenção;
- Orientar a posição apropriada no vaso com relaxamento de musculatura pélvica (adaptador de assento apropriado, pés apoiados e flexão do dorso para frente);
- Indicar a ingestão de fluído durante o dia, especialmente de manhã e início de tarde;
- Alterar hábito dietético noturno (eliminar cafeína, evitar frutas e sucos cítricos, reduzir ingestão de sódio à noite);
- Evitar líquidos pelo menos duas horas antes de deitar;
- Urinar antes de dormir.
Existe também uma solução, digamos, tecnológica. Trata-se de um sensor de umidade que, colocado nas roupas e conectado a um circuito sonoro e/ou vibratório, é ativado como um alarme quando a criança perde urina. Assim, os pais podem acordar o filho para finalizar a micção no banheiro.
“O alarme é indicado a crianças com condições cognitivas e disposta a cooperar, e a partir de 6 anos de idade. Durante o seguimento a longo prazo, a taxa de sucesso é de 62% a 75% e a recidiva, de 15% a 30%”, informa a nefrologista pediátrica.