Varíola dos macacos: 8 medidas que diminuem risco de infecção e transmissão


Os casos do vírus monkeypox, causador da varíola dos macacos, vêm subindo no Brasil. De acordo com o balanço mais recente do Ministério da Saúde, o país está atualmente com 1.369 diagnósticos da doença. O primeiro deles foi registrado no começo de junho.

Não há previsão de vacinação em massa contra a doença em nenhum país no mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), é improvável que a medida seja necessária para combater o surto.

O órgão internacional recomenda a imunização de grupos prioritários, incluindo profissionais de saúde em risco e pessoas que tiveram contato com casos confirmados do vírus.

No Brasil, a imunização será indicada para casos graves, de acordo com o Ministério da Saúde. A expectativa é de que cerca de 20 mil doses desembarquem no país em setembro e outras 30 mil em outubro.

Especialistas afirmam que a vigilância e a identificação rápida de novos casos, bem como o treinamento dos profissionais de saúde para identificar sintomas da doença, são outras medidas fundamentais para a contenção do surto.

No âmbito individual, também é possível se proteger e reduzir os danos de contrair o monkeypox. Existem pelo menos oito medidas que diminuem o risco de infecção ou ao menos evitam a transmissão do vírus para outras pessoas. Elas incluem buscar atendimento médico na presença de sintomas, evitar o contato com pessoas infectadas e não estigmatizar a doença, entre outras. Veja abaixo:

1. Ficar atento aos sintomas e buscar atendimento médico

O primeiro passo é ficar atento aos sinais típicos da varíola dos macacos. Segundo a OMS, a infecção é geralmente dividida em duas etapas:

Período de invasão (dura entre 0 a 5 dias): caracterizado por febre, dor de cabeça intensa, inchaço dos gânglios linfáticos, dor nas costas, dores musculares e falta de energia. O aumento das “ínguas” é uma característica que difere o monkeypox de outras doenças que podem inicialmente parecer semelhantes ao vírus, como o sarampo.

Erupção cutânea: geralmente começa dentro de 1 a 3 dias após o aparecimento da febre. As feridas tendem a ser mais concentradas na face e extremidades do que do que no tronco. Afetam principalmente o rosto, as palmas das mãos e plantas dos pés, as mucosas orais, o ânus e as regiões genitais.

As feridas começam como manchas planas e avermelhadas e geralmente evoluem para bolhas mais volumosas, que depois se enchem de um líquido amarelado, formam uma “casquinha” e caem. Muito infecciosas, elas são o principal meio de transmissão da doença no surto atual.

A doença é geralmente leve e a maioria das pessoas se recupera dentro de duas a quatro semanas. Mas pacientes imunossuprimidos (pessoas com HIV, transplantados ou em tratamento de quimioterapia, por exemplo), grávidas e crianças são grupos de maior risco para desenvolver complicações.

Se você está com um ou mais desses sintomas, deve se isolar do contato físico com outras pessoas e procurar orientação médica imediatamente, para confirmar o diagnóstico da doença.

2. Evitar o contato próximo com pessoas infectadas ou com suspeita de infecção: nada de toque, beijo ou sexo

O contato próximo (pele a pele) com pessoas infectadas é o fator de risco mais significativo para a infecção pelo monkeypox. Portanto, não toque nas lesões ou crostas de uma pessoa com a doença, nem beije, abrace ou faça sexo com ela até que as erupções tenham cicatrizado completamente e uma nova camada de pele se formar.

O CDC (Centro de Controle de Doenças dos EUA) também recomenda que você converse com seu parceiro para estar ciente de erupções cutâneas novas ou inexplicáveis.

Vale lembrar que, embora seja primordial para impedir a transmissão de várias IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), o preservativo é considerado insuficiente para evitar o contágio pela varíola dos macacos durante o sexo. Isso porque as lesões causadas pela doença geralmente não estão restritas aos órgãos genitais, mas também costumam aparecer em outras regiões do corpo que se tocam na atividade sexual, como a face, os braços e as pernas. .

Além disso, o sexo não é a única forma de entrar em contato com as feridas causadas pelo monkeypox.

“O contato íntimo e prolongado com as lesões também pode acontecer através de um abraço, beijo, uma sessão de massagem ou uma luta de MMA [modalidade de esporte de combate que incluem tanto golpes de combate em pé quanto técnicas de luta no chão]”, exemplifica o médico infectologista Rafael Galliez, que faz parte do grupo de trabalho organizado na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para diagnosticar casos de monkeypox e reduzir a cadeia de transmissão da doença.

“Os casos pediátricos estão aí para mostrar para gente que não dá para olhar para o monkeypox como se fosse uma doença limitada à transmissão sexual. Isso é um erro”, diz o especialista.

3. Evitar compartilhamento de objetos, incluindo roupas de cama e toalhas

Tocar em objetos e tecidos (roupas, lençóis ou toalhas) que foram usados por uma pessoa com monkeypox e que não foram desinfetados é uma potencial via de contágio do vírus. Isso porque o pus e as crostas das lesões podem estar presentes nessas superfícies.

A descontaminação de roupas ou lençóis pode ser feita por lavagem com água quente e sabão.

4. Limitar o número de parceiros sexuais

“Ter parceiros sexuais múltiplos ou anônimos pode aumentar o risco de exposição à varíola dos macacos. Limitar o número de parceiros sexuais pode reduzir a possibilidade de exposição”, alerta o CDC.

Se você ou seu parceiro tem (ou acham que podem ter) monkeypox e mesmo assim decidem ter alguma prática sexual, o órgão de saúde pública orienta evitar o contato com as feridas na pele e manter uma distância física de pelo menos 6 pés (cerca de 2 m) entre os parceiros. Também sugere o sexo virtual, sem contato pessoal, além da higienização de brinquedos sexuais.

5. Não estigmatizar a doença: qualquer pessoa pode contrair o vírus

Autoridades sanitárias consideram importante que homens que fazem sexo com homens fiquem especialmente atentos ao risco de transmissão do monkeypox, uma vez que, atualmente, o grupo responde por grande parte dos casos registrados da doença.

No entanto, especialistas alertam que a tendência é que o vírus se espalhe cada vez mais para outros grupos populacionais e que é preciso tomar cuidado para não criar estigmas ou preconceitos em torno da doença, pois isso prejudica o combate ao surto. Qualquer pessoa, independentemente de gênero e orientação sexual, corre o risco de contrair a varíola dos macacos.

“Nessa fase inicial, é preciso alertar os homens que fazem sexo com homens, mas com o objetivo de orientação, não de estigmatização. A doença não é culpa dos gays e pode afetar qualquer um. Não podemos cair no mesmo erro da epidemia de HIV, em que essa população foi muito estigmatizada e isso atrapalhou o controle dos casos”, avalia o médico infectologista Álvaro Costa, do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

6. Usar máscaras

Apesar de o risco de infecção do monkeypox por vias respiratórias ser considerado baixo se comparado a outras patologias, como é o caso da covid-19, especialistas consideram que os cuidados com grupos de maior risco para o desenvolvimento da doença, como imunossuprimidos, grávidas e crianças, devem ser intensificados.

Nesta segunda-feira (1), uma nota técnica do Ministério da Saúde recomendou que grávidas, puérperas e lactantes mantenham o uso de máscaras devido ao surto da doença, além de se afastarem de pessoas com sintomas e usar preservativo em todas as relações sexuais.

7. Cobrir braços e pernas em aglomerações

Antes de ir a um evento, é recomendável analisar o quanto a ocasião irá envolver o contato pele a pele com as pessoas. Festivais, eventos e shows onde os participantes estão totalmente vestidos e com pouca probabilidade de ter contato pele a pele são mais seguros, orienta o CDC.

No entanto, os participantes devem estar atentos às atividades (como beijos e compartilhamento de bebidas e cigarros) que podem espalhar o monkeypox.

“Uma rave, festa ou clube onde há pouca roupa e onde há contato direto, pessoal, muitas vezes pele a pele, oferece algum risco. Evite qualquer erupção cutânea que você observar nos outros e considere minimizar o contato pele a pele”, diz o órgão.

Espaços fechados, como saunas, clubes de sexo ou festas de sexo públicas e privadas, onde ocorre contato sexual íntimo, muitas vezes anônimo, com vários parceiros, podem ter maior probabilidade de espalhar a varíola dos macacos.

Nesta semana, viralizou no Twitter a publicação de um médico que estava no metrô de Madri, na Espanha, e se deparou com um passageiro com sinais nas pernas característicos da varíola dos macacos. O homem estava de bermuda e, portanto, com as lesões expostas. “Quantas pessoas ele pode deixar doentes??? Não faço ideia”, afirmou Arturo Henriques no relato. “Agora eu ando no metrô tentando me equilibrar, sem tocar em nada, e muito menos me sentar.”

Segundo Costa, do HC-FMUSP, o maior risco de contrair a doença em casos como esse não seria ao tocar nos assentos ou corrimões do metrô por onde o passageiro passou, mas, sim, ao encostar em suas lesões.

Por isso, usar calças e camisetas de manga longa pode ser uma forma de reduzir o risco de contágio pelo monkeypox no transporte público, diz o especialista. “Estamos falando de uma doença de contato pele a pele, e de pele que esteja descoberta. O risco de transmissão de uma pessoa com lesões, mas que está com a pele coberta, teoricamente é muito pequeno”, diferencia o médico.

8. Higienizar as mãos

Intensificado por causa da pandemia de covid-19, o hábito de lavar as mãos com frequência ou usar álcool em gel continua sendo recomendável pelos especialistas durante o surto de monkeypox, especialmente antes de comer e tocar o rosto, e depois de usar o banheiro.

Vale ressaltar que higienizar as mãos é uma medida que também protege o indivíduo e a coletividade contra a covid-19 e outras doenças infecciosas.

9. Bônus: animais podem transmitir a doença?

No continente africano, onde a doença é endêmica, há evidências de infecção por meio de mordidas ou ingestão da carne de alguns animais, como roedores. Por ora, no entanto, isso não foi identificado em nenhum outro lugar do mundo.

“A epidemia atual não se correlaciona com a transmissão de animais para humanos. Assim sendo, não se justifica nenhum tipo de atitude e, muito menos, crueldade em relação aos animais, incluindo os macacos”, enfatiza nota enviada à imprensa pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

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