Pesquisa aponta que 59% dos brasileiros que trabalham no modelo home office estão mais irritados


De solução a problema, o home office se tornou um fator de estresse e alteração de humor para uma legião de brasileiros que adotou o sistema de trabalho remoto como medida de prevenção e maneira de manter o distanciamento social. Para entender o real impacto da pandemia na saúde emocional dos brasileiros, o Instituto Bem do Estar e a NOZ Pesquisa e Inteligência conduziram o mapeamento Saúde da Mente & Pandemia, que contou com 2.565 respostas de brasileiros de todas as regiões, idades e classes sociais. O levantamento – conduzido entre maio de 2020 e fevereiro de 2021, em duas etapas – traz um recorte que avalia como a modalidade influenciou os trabalhadores submetidos ao trabalho a distância.

Para 59% dos entrevistados, trabalhar em casa gerou um estado maior de irritação; 65% dos profissionais que estão retornando ao local de trabalho e que dedicam alguns dias ao home office, em um modelo híbrido, também reportam que estão mais irritados do que quando o trabalho era totalmente presencial. De acordo com as pesquisadoras, os índices de irritabilidade são altos nos dois modelos, embora os dados mostrem que permanecer em casa, com todos os desafios, pode reduzir o estresse.

O mesmo padrão foi observado em relação à insegurança: enquanto 53% dos brasileiros que estão em home office estão se sentindo mais inseguros, o percentual é de cerca de 63% para os estão no modelo híbrido – ou trabalhando apenas presencialmente. Esses índices apontam para o aumento da insegurança em relação ao contágio, principalmente, no momento que vivemos, no qual são registrados novos picos da doença.

A pesquisa – que integra o projeto Sociedade de Vidro – avaliou, também, questões como hábitos e rotinas; sentimentos e reações físicas; e impacto na alimentação e na libido de casados e solteiros. Ao longo do primeiro trimestre de 2021, o levantamento contará com outros módulos focados em investigar a saúde da mente de moradores de periferias, de jovens e o novo ambiente de trabalho.

Segundo Juliana Vanin, fundadora da NOZ Pesquisa e Inteligência e uma das coordenadoras da pesquisa Saúde da Mente & Pandemia, entre os destaques do mapeamento estão as análises propositivas que a diversidade de dados possibilita. “A pesquisa traz muitas informações sobre os sentimentos e as reações físicas, mas também mapeamos mudanças nos hábitos e nas rotinas provocadas pela pandemia, como, por exemplo, o nível de isolamento, aumento de horas dedicadas ao home office e às atividades físicas. Isso nos permite traçar as relações entre as alterações nos sentimentos e as reações físicas ligadas à ansiedade e à depressão com as novas rotinas e os novos hábitos. Essas análises serão úteis para planejarmos como lidar com a saúde da mente nesse novo contexto em que vivemos”, afirma Juliana.

Na percepção de Isabel Marçal, cofundadora do Instituto Bem do Estar, o diferencial da pesquisa está em proporcionar pelo menos cinco minutos de reflexão aos participantes sobre os próprios sentimentos e as reações físicas diante da maior crise da contemporaneidade. “Queremos impulsionar o debate, a troca de experiências e a escuta de novas visões e percepções sobre a saúde da mente. E, o primeiro passo é entender como estão nossos sentimentos e quais reações físicas são provocadas em nosso corpo por questões emocionais. A pesquisa proporcionou, por meio do olhar para si mesmo, que levantássemos esses dados, além de outros – citados por Juliana Vanin, com possibilidade de diversos cruzamentos. A partir dos dados levantados e compilados de forma consistente, precisa e plural, poderemos, com a ajuda de especialistas convidados, observar as tendências e realizar uma análise propositiva do atual cenário brasileiro da saúde da mente”, avalia Isabel.

De acordo com a análise de Milena Fanucchi, cofundadora do Instituto Bem do Estar, a pandemia veio para ‘iluminar’ diversos problemas da nossa sociedade, entre eles, os transtornos relacionados à saúde da mente, como depressão e ansiedade. “Se, antes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já previa que, em 2020, a depressão seria a maior causa de afastamentos no trabalho – e até 2030 a doença mais incapacitante do mundo –, imagina agora? A pesquisa mostra o aumento de diversos sintomas relacionados tanto à depressão quanto à ansiedade, o que é preocupante. Por isso, é de extrema urgência informar a população sobre os cuidados com a nossa saúde da mente, para assim prevenir, principalmente, a depressão e a ansiedade”, pondera.

“Embora esteja sendo uma alternativa para manter o distanciamento social, o home office traz desafios, sobretudo à saúde da mente. Em alguns aspectos, proporcionou comodidade e qualidade de vida; em outros, trouxe transtornos, reforçando quadros de ansiedade e irritação, como demonstra o recorte da pesquisa. Em suma, embora permanecer trabalhando em casa neste momento possa trazer maior segurança, os dados mostram que a modalidade ainda requer alguns ajustes para garantir o bem-estar de funcionários com diferentes perfis comportamentais”, analisa Juliana Vanin.

PRINCIPAIS RESULTADOS DO RECORTE

| Entre quem estava trabalhando no final de 2020 e no início de 2021, 56% dos entrevistados estavam atuando integralmente em home office. Na pesquisa Sociedade de Vidro, realizada em maio de 2020, 69% dos respondentes estavam trabalhando em home office.

  • 5%      sempre atuaram no sistema home office.
  • 47%    estavam trabalhando em home office, sem previsão de retorno presencial.
  • 4%      estavam trabalhando em home office, mas já com previsão de retorno.
  • 14%    estavam retornando ao local de trabalho, ou seja, trabalhando alguns dias da semana presencialmente e, em outros, no modelo home office.
  • 13%  por um período trabalharam em home office, mas já retornaram presencialmente todos os dias.
  • 15%    não trabalharam em nenhum momento em home office durante a pandemia.
  • 2%      outros formatos.

| O percentual de pessoas que se sentem excessivamente preocupadas mais do que antes do início da pandemia é maior entre quem está deixando de ou nunca trabalhou em home office (o percentual é crescente).

  • 60%    sempre atuaram em home office.
  • 63%    estavam trabalhando em home office, sem previsão de retorno presencial.
  • 64%    estavam trabalhando em home office, mas já com previsão de retorno.
  • 63%    estavam retornando ao local de trabalho, ou seja, trabalhando alguns dias da semana presencialmente e, em outros, no modelo home office.
  • 68%    trabalharam em home office, por um período, mas já retornaram presencialmente todos os dias.
  • 69%    não trabalharam em nenhum momento em home office durante a pandemia.

| A análise do impacto do home office no grau de irritação dos entrevistados.

  • 59% dos que estão em home office estão mais irritados.
  • 65% que estavam retornando ao local de trabalho – ou seja, trabalhando alguns dias da semana no local de trabalho e, nos outros, em home office – estão mais irritados.
  • 65% que não trabalharam em nenhum momento em home office durante a pandemia estavam se sentindo mais irritados.

Em geral, o aumento da dificuldade de concentração não se altera entre quem está em home office ou não, mantendo-se alta para todos; porém, cerca de 53% afirmaram que estão com mais dificuldade do que antes da pandemia. Entretanto, entre os que estavam retornando ao local de trabalho – trabalhando alguns dias da semana presencialmente e, em outros, trabalham em home-office – 68% sentiam-se com maior dificuldade de concentração.

 

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